Quem nunca pagou um mico?
Joinville é uma bela cidade catarinense, onde trabalhei como instrutor de vôo do Aeroclube local nos anos de 1940.
Nordestino do Seridó nada sabia da vida e dos costumes daquela terra estranha para mim. Solteiro, 20 anos de idade, achava tudo maravilhoso especialmente as garotas. Algumas delas me olhavam dando sinal que podia me aproximar. Um mês após a chegada já me achava completamente ambientado.
Numa certa manhã, quando me deslocava para o Campo de Pouso, ao dobrar uma esquina,entrando na rua do Norte, encontrei o “rush” de ciclistas vindo no sentido contrário para o trabalho, tive que frear bruscamente o veículo que dirigia para deixar passar uma jovem que pedalava sua bicicleta; pedi desculpas e ela saiu rindo sem demonstrar aborrecimento com o susto.
Mais tarde, pouco antes da hora do almoço, quando regressava do hangar, cruzei com a mesma jovem, que me cumprimentou com um ar de riso.
Fiquei impressionado com ela e através dos meus alunos, soube que se tratava de Srta. Helga, funcionária de uma firma (Lange & Colin)proprietária de um engenho de beneficiar arroz, ali mesmo na área.
Por coincidência, o horário que ela ia para o trabalho e quando regressava para o almoço, algumas vezes, coincidia com o meu, de ida e de regresso ao hangar. Esses encontros se repetiam com tanta frequência que já nos cumprimentávamos como velhos conhecidos.
Certo domingo chegando para a sessão da tarde do cinema, lá estava a jovem na fila do ingresso.Me aproximei e naturalmente iniciou-se um “papo” ainda relacionado ao fato onde tive que frear rapidamente o veículo. Vimos o filme e saímos de lá marcando um encontro.
Mal sabia eu que, algumas famílias locais ainda resistiam em deixar as filhas namorar com gente que não fosse de “origem”.
Posteriormente aconteceram outros encontros, até nos bailes do 'Harmonia-Lyra',clube social, considerado o mais tradicional da sociedade Joinvilense,mas ela se reservou o direito de não me falar sobre esse preconceito existente em algumas famílias daquela cidade.
Num final da tarde de um sábado, estávamos nós “batendo papo” sentados num banco da praça, bem em frente à Agência dos Correios, quando repentinamente, surgiu em nossa frente uma matrona típica do povo germânico, falando alto em alemão, sem que eu entendesse nada. Assustado,perguntei a Helga do que se tratava, e ela muito acanhada, me respondeu:
É a minha mãe!... A mulher fez um escarceu tão grande que a praça toda se voltou para nós. Helga levantou-se e submissa dirigiu-se à mãe que a conduziu para casa. Só aí é que entendi o que estava se passando.
Num primeiro momento,fiquei sem ação e no maior constrangimento, as pessoas na praça me olhavam com ares de condenação e curiosidade. Permaneci sentado no banco, enquanto me refazia daquele vexame,dando um tempo para seguir para a Pensão de D. Rosa Vendel, na rua do Príncipe, onde morava.
O acontecido deixou-me sem graça e a partir daí tive que rever o meu modo de ser dentro daquela sociedade germânica que, apesar de todo sofrimento e privação que havia passado no período da guerra, o espírito de clã ainda predominava.
'Sociedade Harmonia-Lyra'-Joinville-SC
Continuei indo mais adiante até a Choperia,um lugar animado, onde se bebia uma cerveja bem gelada, acompanhada de bons tira-gostos e que não faltava parceria.
Joinville era assim, uma cidade onde se preservava a cultura germânica,um povo festeiro, boas músicas, lindas garotas e muitas bicicletas.
Schutzenfest,uma Banda musical folclórica de Brochier
Música Alemã
Fotos obtida no GOOGLE
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