O tio Oswaldo nos havia convidado a ir romper o ano novo lá no alto da Serra Branca. Este acidente geográfico é de uma formação rochosa isolada, de forma cônica/piramidal, atingindo uns 300 metros de altura, localizada no lado sul da Fazenda Lagoa Nova, município de Riachuelo, hoje transformada numa imensa pedreira.
Para nos acompanhar nessa aventura e nos dar o apoio necessário, determinamos o auxiliar Pedro Ezequiel, morador da fazenda desde a infância, também caçador naquelas caatingas.
No dia 30/dez., ele foi ao “pé da serra” para limpar o local onde iríamos montar o “rancho”, de preferência junto a uma árvore frondosa, e em um ponto o mais alto possível; abriu uma clareira na mata, improvisou um meio-fogão, ou seja, uma trempe com blocos de pedra facetados onde se podia fazer um café ou assar uma carne, juntou uma pilha de lenha seca e marcou os locais onde armar as redes.
No dia 31, antes que o sol esquentasse, tomamos um café reforçado e iniciamos a pé o percurso entre a sede da fazenda e o ponto de “arrancho”.
Foi uma caminhada agradável por estrada de terra e pequenas trilhas e duas horas depois, lá pelas 10 horas, já nos encontrávamos na clareira.
O nosso zeloso auxiliar, um nativo, acostumado andar pela aquela mata desde menino, providenciou um burro/jumento “encangalhado” e um par de caçoar para conduzir os nossos pertences: utensílios de cozinha, alimentos, redes de dormir, espingardas, os foguetões e até uma caixa de pronto socorro com soro antiofídico(exigência de tio Oswaldo).
Antes que o almoço fosse servido, já havíamos iniciado a identificação da melhor trilha para se chegar lá no alto da serra.
Lá pelas 22 horas iniciamos a subida lentamente seguindo em fila à moda dos índios,levando uma iluminação conseguida com galhos de facheiro incendiados e o nosso “arrieiro” como guia.
Próximo à meia noite já tínhamos alcançado o local previsto e por ser uma noite sem luar, a nossa visão para todos os lados era uma escuridão total, o que se via lá embaixo,apenas luzes dos pequenos lugarejos e de algumas fazendas que haviam feito fogueiras na frente das casas.
A brisa havia parado, o silêncio era absoluto, até nós falávamos baixo como se em respeito à natureza. Só as corujas e os caborés, pássaros de hábitos noturnos, por se sentirem incomodados com a nossa presença, vez por outra emitiam os seus piados agourentos típicos dessas aves abundantes na serra.
Meu pai muito atento para não perder a hora, segurava uma lanterna à pilha, focalizando o mostrador do relógio de bolso que sempre conduzia, enquanto o tio Oswaldo e o companheiro já se preparavam para o momento de acender os pavios dos fogos que iam explodir anunciando a chegada do novo ano;
De minha parte, estava ali sentado numa pedra assustado com toda aquela escuridão, mas ao mesmo tempo, uma sensação de bem estar me envolvia, do alto daquela serra podia ver mais de perto o céu ‘coalhado’ de estrelas e lá embaixo pequenos pontos de luz tremulavam na minha visão.
De minha parte, estava ali sentado numa pedra assustado com toda aquela escuridão, mas ao mesmo tempo, uma sensação de bem estar me envolvia, do alto daquela serra podia ver mais de perto o céu ‘coalhado’ de estrelas e lá embaixo pequenos pontos de luz tremulavam na minha visão.
Meia noite e um segundo foi acionado o primeiro foguetão, em seguida, uma série deles como havíamos previsto. Podíamos ouvir que algumas fazendas faziam o mesmo, foi como se o mundo todo tivesse acordado.
Quando os fogos terminaram, o tio Oswaldo e o meu pai numa atitude inesperada, usando toda força dos pulmões e a resistência das cordas vocais, manifestaram através de gritos com muito entusiasmo aquele momento, saudando a chegada de mais um Ano. Foi o ponto culminante da nossa aventura.
A descida para o acampamento, no escuro total, bastante lenta, com muito cuidado nas passagens mais difíceis, cada um segurava o outro até chegar à base; o fogo que havíamos deixado aceso nas trempes ainda estava lá, aumentamos as chamas com lenha seca e o nosso auxiliar nos preparou um aromático café para nos confortar e aquecer.
Mesmo sendo dezembro a temperatura lá no alto, ao nível em que nos encontrávamos, era fria.
Uma aventura simples que fez revigorar as nossas forças, ânimo e esperança para um futuro que se iniciava naquele primeiro dia de janeiro, que nem lembro mais de que ano.
Foto obtida no GOOGLE
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