sexta-feira, 17 de junho de 2011

Batendo perna pela Cidade Alta

Instituto Histórico-Cidade Alta-Natal-RN


A manhã estava com a temperatura agradável, o sol radiante convidava a caminhar. Deixei o carro num estacionamento próximo a Igreja de Santo Antônio e saí no rumo da Av. Rio Branco. Entrei naquela ruela apelidada de Beco da Lama, dei uma parada na porta de ‘Galhardo’ para ver o andamento da diagramação do meu livro; fui muito bem recebido pela esposa que me adiantou:
“- Ele deu uma saidinha, mas volta já!...”

Segui em frente; entrei na loja de fotografia para receber as fotos encomendadas e, uma gentil balconista me informou que uma falta de energia desde as vésperas impediram das máquinas funcionarem.” – O Senhor terá que voltar mais tarde”.

Continuei pela Rio Branco. Do outro lado da avenida avistei o “Sebo Vermelho” de Abimael com a porta de ferro ainda abaixada, apesar de ser 09,30 da manhã.

Dei uma paradinha no vendedor de castanhas, velho conhecido, e zelador da sua reputação, já me previne: Só tenho essas que foram de ontem, mas se quizer levar ,ainda estão boas e bem torradas”.

Nessa altura perdi o interesse das coisas e saí caminhando lentamente sem destino, no rumo do antigo “Grande Ponto”. Inesperadamente dei de cara com um jovem intelectualizado, seguidor ardoroso de Che Guevara, usando roupa de guerrilheiro e boina com estrela e tudo.

O gajo estava vendendo um jornal manuscrito editado por ele. Até aí tudo bem, estamos em regime democrático onde tudo é permitido; mas aguentar um sujeito, àquela hora da manhã, com bafo de fossa, falando em cima da gente, tentando vender aquilo que não se quer comprar, tira toda a poesia de uma manhã, que no seu esplendor, prometia boas sensações durante a minha trajetória.

Com algum esforço me livrei do “revolucionário” e chegando à esquina da Rio Branco com a João Pessoa, estava um conjunto de índios peruanos tocando em suas flautas músicas típicas e vendendo artesanato. Aproximei-me da aglomeração para espiar. Por uns instantes senti alguém metendo a mão no meu bolso e com um gesto brusco livrei-me do descuidista que saiu em disparada e quase me leva a carteira de documentos.
No mesmo instante decidi: “- O dia hoje não está favorável é melhor cair fora daqui antes que aconteça algo pior”.
Prossegui pela Rio Branco no rumo do Alecrim e para surpresa minha encontrei o “Sebo Vermelho” já aberto.

Abimael semi-deitado no seu assento preferido, um velha “preguiçosa” que já deve estar completando uma dezena de anos naquele mesmo lugar.

SEBO VERMELHO
De frente a ele estava o “Bispo” de Taipú, com seu “bisaco” de couro cheio de objetos pessoais e alguns livros, a comentar os novos lançamentos que teriam ocorridos na semana anterior.
O “Bispo” é um severo crítico literário, não escreve nada, mas solta o verbo para quem quiser ouvir.
Abimael com um jornal aberto na frente do rosto, fingindo que estava ouvindo o palrear do “Bispo”, e de vez em quando, recusando comprar livros de transeuntes e preguiçosamente levantando-se para vender alguma publicação do seu desarrumado estoque que só ele entende.
- Oi, Pery sente aí, como vai o livro? Falou Abimael.
Permaneci ali por algum tempo, enquanto aliviava os pés. Quando decidi deixar o local, um gaiato me abordou:” -Finalmente, Saint-Exupéry esteve ou não em Natal?...”
Essa é uma pergunta que sempre me fazem por conta do meu ponto de vista um tanto radical sobre o caso.
O que vocês acham o que eu respondi?
Saí dali às pressas antes que chegasse mais alguém interessado em saber a minha resposta.
Ufa... Que manhã!...

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