TARDE DE ABRIL
As tardes de abril em Natal, início do outono, ainda trás restos do verão que se foi com seu calor sufocante.
Nesse ambiente calorento circulei pelo centro da cidade aí pelas 16 horas, fazendo umas compras. Quando deixava a Galeria Barão do Rio Branco, pela Rua Princesa Isabel, deparei-me com José de Melo Pinto, um contemporâneo do Atheneu, nos idos de 1944, sentado num dos bancos da calçada, instalado à sombra do edifício aproveitando a brisa dos alísios.
Foi uma satisfação encontrar aquele antigo companheiro, reunido com alguns anciões fugindo do calor outonal. Quando me viu deixou rápido o banco e dirigiu-se a mim, sempre de bom humor e um riso espontâneo na face que o caracteriza.
Foram poucos instantes, mas serviram para recordarmos antigos colegas, alguns ainda vivos e outros que já nos deixaram. Uma figura que veio logo à nossa mente foi Ivanildo Paiva, mais conhecido por “Ivanildo-deus”, que julgávamos já ter ido para o céu,ganhou esse apelido, por se fazer presente em vários lugares ao mesmo tempo.
Era filho do Professor Saturnino, um grande mestre da língua portuguesa, cujo método de ensino incluía o humor, atraindo os alunos faltosos. É dele essa ‘pérola’:
“Gente, a vírgula é muito importante na frase, vejam: - Logo pela manhã minha mulher me acorda assim:
“Saturnino- (vírgula) - seis e meia- (vírgula) - está na hora de acordar. Agora tire a primeira vírgula e veja como fica.”
Com a sua didática bem peculiar, os alunos aprendiam se divertindo.
Mas voltando ao momento, fiquei feliz com aquele inesperado encontro, despedi-me do amigo que, logo retornou ao seu lugar no banco,onde estava seus companheiros, cuja idade de todos, somada, daria uns 500 anos.
Continuei pela Rua Princesa Isabel, andando lentamente por conta do calor e entrei na Rua Coronel Cascudo no rumo da Deodoro, de repente e, coincidentemente, outro inesperado encontro: Vi-me diante de duas filhas do Professor Saturnino.
Paramos para uma prosa, e falei que momentos antes estava comentando com um amigo comum sobre o paradeiro de Ivanildo. Fiquei tranquilo depois que elas me informaram que ‘Ivanildo-deus’ estava vivo, morando em Recife, ainda exercendo advocacia.
Paramos para uma prosa, e falei que momentos antes estava comentando com um amigo comum sobre o paradeiro de Ivanildo. Fiquei tranquilo depois que elas me informaram que ‘Ivanildo-deus’ estava vivo, morando em Recife, ainda exercendo advocacia.
Segui minha caminhada no sentido da Praça Pio X, entre lojas de armarinhos e sapatarias populares, procurando me abrigar dos raios solares que mesmo naquela hora, ainda incomodava.
Chegando na Av.Deodoro, dei de cara com o prédio do antigo cinema Rio Grande. E novamente voltei no tempo. Na década de 1950 era ali um local de entretenimento dos mais modernos na cidade, onde a sociedade natalense tinha a oportunidade de assistir as grandes produções cinematográficas, e eu pessoalmente, o prazer inesquecível de ver um dos maiores clássicos do cinema italiano chamado
“Arroz Amargo”, estrelado por Vittorio Gassman, e que lançou no mundo cinematográfico a belíssima Silvana Mangano,aos 18 anos,esbanjando toda sensualidade e que viria a ser uma das maiores atrizes de todos os tempos.
A minha caminhada terminou ali mesmo, apanhei o carro no estacionamento, circulei pela Deodoro, ainda dei uma parada na frente do velho cinema, e me veio à mente uma cena magnífica do filme.
Silvana Mangano labutando na colheita do arroz dentro de um brejo, com água na altura dos joelhos mostrando toda a exuberância que a natureza exagerou nas formas e proporcionando um deleite para os olhos do espectador.
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