A tarde avançava e não havia ali a menor condição de pernoite. Com ajuda do “guarda campo”, do colega que viajava comigo e umas tábuas encontradas no local, desatolamos o avião.
Cockpits - PT -19
Na metade da pista o velocímetro só marcava 40 MPH; era um verdadeiro pandemônio de água e lama no parabrisa, causado pela hélice a 2.300 RPM, prejudicando a visibilidade.
Quando pude divisar algo, vi que as árvores à esquerda, eram as mais baixas.
O motor continuava a pleno com a temperatura atingindo alturas perigosas.
Não podia reduzir, pois necessitava da potência máxima naquele momento. Também não havia mais tempo e nem espaço para abortar a decolagem.
De repente o velocímetro marcou 50 MPH,pronto para o desafio, arranquei o avião do solo com determinação. Ele subiu em meio "stall" e afundou,não se matendo no ar.
Por sorte nossa, voltou ao solo com todo o seu peso, num lugar enxuto e foi ricocheteado para o alto.
Com uma ligeira pressão no manche consegui segurá-lo no ar, em vôo horizontal, a pouca altura. Cedi o manche para tentar ganhar velocidade.
A minha preocupação agora eram as árvores que se aproximavam com uma incrível rapidez; fiz uma ligeira pressão no pedal e fui mudando o rumo para as mais baixas.
Pressionei mais um pouco o manche para trás e venci as primeiras árvores que passaram rápidas sob as asas. Já com algum controle no comando de asa, mudei o rumo para esquerda e depois para à direita, desviando as copas mais altas que não consegui ultrapassar.
Várias vezes senti o impacto dos galhos no trem de pouso, que não chegou a prejudicar o vôo a baixa velocidade. Lentamente fomos ganhando mais velocidade e altura, saindo fora do perigo daquela mata nativa, com árvores de até 30 metros de altura.
Iniciei uma subida normal até onde o teto permitiu, rumando diretamente para Salvador.
Não gastamos mais do que dois ou três minutos naqueles momentos de grande perigo e tensão.
Eu e o avião havíamos sidos submetidos a um verdadeiro massacre na nossa capacidade de resistir, atingindo o ponto de quase rotura.
Já na tranquilidade do vôo de cruzeiro, o avião bem ajustado nos seus compensadores, o rumo certo, o tempo deu uma chance, e só então soltei os nervos que doíam e os músculos todos tremiam.
Esparramado na poltrona de comando aguardava a cidade de Salvador aparecer na proa.
Pery Lamartine- "ESCAPE,estórias de aviador"
Fotos obtidas no Google
Caro Pery,
ResponderExcluirDevo confessar que tirei os pés do chão, quando da passagem por sobre a copa das árvores, com o trem de pouso a tocá-las. Belíssima narrativa.
Prezado Pery,
ResponderExcluirGostaria de manter contato com voce, pois acho que esse tipo de narrativas de grande importancia para a historia recente do Brasil(e da aviaçao).
Sou desenhista, ilustrador, como queira chamar...
De Recife, mas com raizes no RN. Vivo a 14 anos na Espanha. Sou fascinado pela aviação.
Se me der a honra de ter seu contato, deixo abaixo meu e-mail para contato.
Um abraço e continue. Copiei as historias para ler com calma se vc nao se importa...
Um grande abraço de Barcelona.
Isac
www.isacgalvao.com
igalv(at)hotmail.com