O ENCANTO DA LUA CHEIA |
A lua, em todas as suas fases, tem o encanto próprio do período em que se encontra. No plenilúnio, ela surge no horizonte no mesmo instante em que o sol está no ocaso. A partir daí ela assume inteiramente à noite, oferecendo um espetáculo majestoso.
Desenrola-se uma sequência de quadros belíssimos e variados, com cores fortes, indo desde o vermelho agressivo do sol poente, até a luz fria, prateada e difusa, quando a lua caminha na cumieira do céu. Ao nascer, ela se apresenta esférica, crescida, cheia como se fosse explodir.
Mais tarde vai se distanciando, mostrando as sombras da face, levando o sertanejo a criar fantasias em torno da figura de São Jorge e seu cavalo.
Neste ambiente celestial a natureza se mobiliza para um espetáculo pleno. As montanhas limitam o espaço formando o palco; as árvores ornamentam o ambiente. O farfalhar das copas e o ranger dos galhos, acionados pela brisa, produzem o fundo musical.
Os ariscos tetéus sempre alertas e as aves noturnas, como as corujas, as curicacas, os carões, além dos galos do terreiro e os guinés (grandes solistas), emitem seus cantos acompanhados pelo coaxar dos sapos nos açudes.
Todo esse madrigal se apresenta harmoniosamente disciplinado, como se fosse regido por um maestro invisível. Tudo fartamente iluminado pelo luar e os milhões de cintilantes corpos celestes, cuja manifestação de alegria é demonstrada pelas estrelas cadentes riscando o espaço infinito como fogos de artifício.
Este espetáculo vivo se desenvolve num crescente, desde o anoitecer até a madrugada, quando a lua fecha a cortina com belíssimos fios dourados refletidos nos flocos de cirrus que se aventuram a ofuscá-la.
O sertanejo agraciado por esse deslumbre da natureza, festeja cantando em prosa e verso, assim como fez o poeta assuense *Renato Caldas:
Logo de noite,Quando vorto do trabáio,
Pego a viola e me espáio,
Coméço logo a cantá.
Enquanto a Lua
Tá no Céu dipindurada
Ouvindo a minha toáda
Com vontade de chorá.
Oh! Lua cheia, Oh! Lua cheia.
Não óie nas teia
Da casa de meu amô.
Pruquê se oiá,
Se espiá,
Cabô-se lua cheia
O teu furgor.
Eu tenho raiva
Quando vejo a lua cheia,
Espiando pelas teia
Da casinha do meu bem!
Eu penso inté
Qu'essa lua tão marvada,
Qué levá a minha amada
pra uma casa que ela tem.
Mas, se eu pegasse
A lua pelas guéla,
Dava tanta tapa nela
Qui nem é bom, se falá...
Qui me importava
Qui o mundão escurecesse,
Ou qui ela se escondesse,
Só com medo de apanhá.
Se Deus deixasse
Se Deus aconsentisse,
Qui pro céu assubisse
E fosse lua também...
Passava a noite,
Lá no céu dipindurado,
Pego a viola e me espáio,
Coméço logo a cantá.
Enquanto a Lua
Tá no Céu dipindurada
Ouvindo a minha toáda
Com vontade de chorá.
Oh! Lua cheia, Oh! Lua cheia.
Não óie nas teia
Da casa de meu amô.
Pruquê se oiá,
Se espiá,
Cabô-se lua cheia
O teu furgor.
Eu tenho raiva
Quando vejo a lua cheia,
Espiando pelas teia
Da casinha do meu bem!
Eu penso inté
Qu'essa lua tão marvada,
Qué levá a minha amada
pra uma casa que ela tem.
Mas, se eu pegasse
A lua pelas guéla,
Dava tanta tapa nela
Qui nem é bom, se falá...
Qui me importava
Qui o mundão escurecesse,
Ou qui ela se escondesse,
Só com medo de apanhá.
Se Deus deixasse
Se Deus aconsentisse,
Qui pro céu assubisse
E fosse lua também...
Passava a noite,
Lá no céu dipindurado,
Oiando pelo teiádo
Da casinha do meu bem.
Da casinha do meu bem.
*O poeta assuense Renato Caldas (08.10.1902-26.10.1991) é considerado o maior representante da poesia matuta norte-rio-grandense. Comparado a nomes como Catullo da Paixão Cearense e Zé da Luz, Caldas conseguia, de modo simples e espontâneo, abordar temas como o amor, a vida no meio rural, a simplicidade do homem do campo, a natureza e a beleza feminina. Recebeu a alcunha de “O poeta das melodias selvagens” por causa da rudeza e originalidade de seus versos. A obra mais conhecida do poeta chama-se Fulô do mato (1940).
Fonte e Fotos: Google
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