Ilustração de Dorian Gray
Sendo a propriedade, um “bem de família”, já vinha sendo beneficiada desde o início do Século XIX, pelo seu primeiro proprietário, Gorgônio Paes de Bulhões. Na época, o principal objetivo da Fazenda era a criação; havia mais preocupação em ter bons currais do que residências ou armazéns. Por essa razão é que no ano de 1836, antes de ser iniciada a construção da Casa Grande, só havia ali uma construção de taipa, composta de três quartos pegados, parede e meia, com um alpendre na frente, que serviam precariamente de residência. Essa construção foi demolida aí por volta de 1950 e em lugar levantados outros quartos iguais, porém em alvenaria. Da mesma época da Casa Grande, é o antigo curral de pau-a-pique, cujas estacas de miolo de aroeira resistiram às intempéries, chegando até aos nossos dias. Apesar das sucessivas reformas, ainda restam algumas delas, em condição de uso, compondo a cerca do atual curral, situado no antigo local. O início da atividade agrícola foi por volta de 1860; intensificou-se na entrada do século, quando os preços dos produtos agrícolas, especialmente o algodão, dispararam no mercado. Só aí surgiu a necessidade das primeiras cercas em volta dos roçados, pois a criação era solta nos campos abertos. Inicialmente eram de madeira; surgiram depois as cercas de arame farpado ou uma combinação de ambas.
Dos prédios, existe as casas dos moradores, em alvenaria, algumas caiadas, outras em tijolo aparente. Os armazéns, situados próximo à Casa Grande, é uma construção do início do século, levantados para abrigar o “Vapor”, cujas máquinas de descaroçar o algodão, ficaram ativas até o ano de 1950. Dos açudes, em número de dois, o mais antigo, chamado o “açude velho”, localizado próximo à Casa Grande, tem boa água de beber, porém não dava vazante. O segundo, localizado lá nos fundos das terras, foi construído com o fim específico de ser “bebida de gado”; tem ótima água e um pequeno canavial atrás da parede. É rico em peixes de água doce: traíra, Curimatã, Piau e outros da região. As benfeitorias dessa propriedade são uma mistura de estilos, onde se evidencia a evolução do sistema de viver da época, apesar dos hábitos conservadores adotados por aquela gente.
No início todas as benfeitorias se destinavam ao desenvolvimento da criação. Foi necessário uma grande crise mundial envolvendo principalmente os Estados Unidos para se desenvolver nos aluviões do Seridó a lavoura algodoeira, plantando a variedade Mocó de fibra longa. Foi um período relativamente curto e no auge da produção, ela tornou-se tão lucrativa quanto era a criação. Daí ter surgido em muitas fazendas uma pequena indústria constituída de máquinas para descaroçar o algodão acionada por um “locomóvel” tocado a lenha que acionava tudo. A lã do algodão alcançava bons preços no mercado e aumentava os lucros dos agricultores. O “descaroçador de algodão” da Fazenda Timbaúba, instalado num prédio para abrigar todas as máquinas, a prensa, as áreas destinada ao armazenamento do algodão em caroço e depois a lã já enfardada era um prédio bastante amplo localizado bem próximo a Casa Grande. Toda essa estrutura com os equipamentos continuam lá, intactos e em condições de funcionamento. São peças prontas para ir para um museu. Todo esse equipamento estrutural de descaroçar o algodão funcionava só dois meses por ano. Setembro e Outubro. Era trabalho para entressafra do pessoal da fazenda e ocupava pelo menos dez pessoas, servidores da própria fazenda. A lã produzida ali era transportada até Jardim do Seridó, pela tropa de burros e negociada com a firma do Coronel João Medeiros cujo pagamento era feito uma parte em dinheiro vivo e outra parte em torta de caroço de algodão para ração das vacas em lactação. A distribuição do pessoal começava pelo foguista da caldeira, esse postos era reservado a Pacheco pela sua condição física e pelos conhecimentos de mecânica. Nas máquinas de limpar e descaroçar o algodão era reservado para Chico Davi, ele próprio recrutava um auxiliar, os prenseiros eram dois criolos irmãos, avantajados, cujos nomes fugiram da minha mente, o tropeiro para transportar o algodão, depois de beneficiado para Jardim do Seridó era Manoel Libâneo, Murixaba para coordenar a dinâmica dentro do descaroçador e mais três auxiliares recrutados no momento do início das atividades. Os serviços iniciavam diariamente às 07 da manhã indo até as 17 horas, com parada para as refeições que eram feitas na própria Casa Grande. Essas instalações funcionavam somente uma vez por ano, entre setembro e outubro, dependendo do andamento da safra algodoeira e raramente aparecia um pequeno produtor querendo beneficiar sua própria safra, para esses, era preferível vender o algodão em caroço.
Texto extraído do livro "Timbaúba-Uma fazenda no sec. XIX"-Nossaeditora Ltda.-Natal-RN-1984 |
Nenhum comentário:
Postar um comentário