quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

TIMBAÚBA - V



V - A CRIAÇÃO


ILUSTRAÇÃO DORIAN GRAY


No ano de 1862, a Casa Grande havia sido construída. A Fazenda desenvolvia grande atividade pastoril.  Em todo o Rio Grande do Norte havia um febril desenvolvimento na criação de gado. 
Naquele ano, “... subiu 2.013, o número de fazendas de criação, produzindo anualmente, em média, 60.000 cabeças (...) e começando a sair para outros estados os afamados queijos do Seridó.(1)
O proprietário Gorgônio Paes de Bulhões realizava freqüentes viagens (...) em companhia do seu pai, comprando gado no Piauí. (2) Essa atividade era muito lucrativa, razão porque foi mantida, por muito tempo, ainda após a sua morte, (1º. maio de 1865) pelo seu filho sucessor, Zuza Gorgônio da Nóbrega.
Zuza acreditava naquele ditado popular, muito conhecido no Seridó:
“Bicho que mija pra trás é que bota  homem pra diante”.
  Por isso mesmo procurou melhorar o seu rebanho, introduzindo uma raça de grande produção leiteira e bom peso, o Suíço Pardo, para substituir o gado “Pé-duro”, de baixo rendimento.
  A Fazenda tornou-se conhecida pela qualidade do seu rebanho e dos queijos de manteiga, os quais eram vendidos nas feiras de Campina Grande e Recife. 
 O gado Suíço fez muito sucesso e ainda hoje é encontrado no Seridó, remanescente daquele rebanho.
Quanto à “miunça”, não se criava cabras, entretanto, o rebanho de ovelhas era expressivo. A criação destinava-se ao consumo interno da Fazenda, onde se abatia um carneiro dia sim dia não.
Os porcos eram criados em função da produção de leite. Havendo mais leite, colocava-se mais porcos na engorda.
Como ração, era usado o soro da coalhada e do queijo, acompanhado de raízes de batata doce e milho em grão. 

As aves eram criadas no terreiro, sem nenhuma atenção especial.  Apenas lhes jogavam um punhado de milho no chão, diariamente, pela manhã. As galinhas e os guinés eram os preferidos da velha Nanú, que sabia muito bem transformar um frango num “capão”, para os dias de festa.

A partir de 1942, quando o velho Zuza faleceu, a Fazenda entrou em declínio, motivado pelos inventários e conseqüente retalhamento: mesmo assim, ainda foi à criação que deu lucro, por muito tempo, aos herdeiros do velho Zuza.


 - A filha mais velha do casal, chamada Theodora Arcanja, era conhecida na intimidade por Nenem;típica mulher sertaneja por  sua força e coragem;nunca casou e, viveu toda a sua vida na Fazenda Timbúba onde administrava os serviços da “Cozinha do Queijo”. 
 Os produtos fabricados ali ela dominava todo o processo de fabricação, usava a marca Z e eram os mais procurados na feira de Caicó.
  No decorrer do ano, dependendo do inverno, ela destemida que era, se deslocava acompanhando a vacaria para lugares diferentes na fazenda, a fim de, melhor aproveitar as pastagens e conseqüentemente reduzir os custos de produção.
  No final do inverno, ela atravessava o rio e ia para o Sítio Goiti, nos fundos das terras da Timbaúba. Lá ficava instalada numa bela casa em cima de uma elevação com uma vista deslumbrante.
 E a vacaria aproveitava bem as pastagens com uma boa bebida no açude, dava a custo zero na produção do leite e aumentava o lucro na venda dos queijos.


Nenhum comentário:

Postar um comentário