EPÍLOGO
Nos anos 40/42 estive cursando um colégio do Estado de Minas Gerais. Através de correspondência com meus pais, tomei ciência do grave estado de saúde do velho Zuza, o qual havia extraído um cisto da pele, atrás da orelha direita e cujos exames de laboratório davam como maligno.
No final de 1941, vim ao Nordeste, de férias de fim de ano, ficando maior parte do tempo na Fazenda Timbaúba. Encontei ali um ambiente de desolação; o velho ainda resistindo à doença, a Fazenda enfrentando já um ano de seca e a família toda em estado de expectativa, diante daquele quadro desesperador.
A administração da Fazenda estava dividida entre o tio José ( o filho que na época morava mais perto) e a velha Nanu, que não abria a mão das decisões. Mantinha um homem de plantão permanente (o negro Murixaba), para em caso de emergência, ir atrás de medicamentos (controlados), para aliviar as crises do velho Zuza.
Nessa altura, já se notava sinais de decadência da Fazenda, provocada principalmente pela seca e os gastos provenientes da doença do velho, que terminou sem solução e exaurindo as reservas da família.
Em fevereiro de 1942, tinha de retornar ao Colégio. Não foi nada fácil a minha partida, pois estava consciente de que nunca mais veria o velho Zuza com vida. Ainda guardo na memória aquela despedida dramática, que me deixou arrasado por muitos dias.
Fiquei o dia todo protelando a hora da despedida, até chegar o momento que não podia mais adiar; dirigi-me ao quarto, encontrando o velho deitado numa rede (ele detestava cama); quando anunciei que estava de partida, ele, mesmo atordoado pelos medicamentos e como peso dos 88 anos de idade, sentou-se na rede, segurou a minha mão e disse:..." Nunca mais vou lhe ver, estou no fim. Deus lhe dê um bom futuro. Deus lhe abençoe.”
Seus olhos fixados em mim ainda brilhavam. Saí dali às pressas, com um nó na garganta e se passaram vários dias para desmanchar. Viajei em seguida e, dias depois, quando já me encontrava no sul, recebi a comunicação do seu falecimento. No ano seguinte, a Fazenda Timbaúba estava sendo dividida entre os filhos; a velha Nanu e a Tia Nenem( Teodora), permaneceram morando na Casa Grande por muitos anos ainda.(*)
Os valores culturais daquela Fazenda foram preservados ao máximo possível. Hoje, porém, resta apenas aquele casarão simpático, acolhedor, porém sem a presença humana. Um testemunho concreto do que foi uma Fazenda do Seridó, no Século XIX. Cabe a nós, da geração presente e das futuras, fazê-la reviver, pois a imagem de Zuza Gorgônio, D. Nanu, Tia Nenem, Zé Gordinho, Negra Rosária, Pacheco, João Libânio, Murixaba e tantos outros personagens que se encerraram ali, permanecem no ar e na memória dos vivos que tiveram o privilégio da convivência com aquela Fazenda.
(*) – D. Nanu faleceu na Casa Grande, em março de 1953 e a tia Nenem (Teodora) faleceu no dia 8 de maio de 1978, no Hospital em Caicó. – A data do nascimento de tia Nenem é 13-01-1893.(?)
Caro Pery. Primeiramente digo que estou emnocionado em ter encontrado este blog, contando a história da Casa Grande da Timbaúba. Sou historiador, e Já visitei três vezes aquela casa, e sempre fico em silêncio naquele ambiente que parece ter parado no tempo e no espaço. Queria muito conhece-lo pessoalmente, para conversarmos. Agradeço se for positiva sua resposta. Meu nome é Lenilson Azevedo, e moro em Ouro Branco-RN. Telefone: (84) 8815-7515. email: lenilsonazevedo@hotmail.com
ResponderExcluirVocê ainda mora em Ouro Branco? Tem visitado a Fazenda Timbaúba??? Como ela está?!
ExcluirPerry,faltou vc citar e falar um poucos dos netos e bisnetos de Vovô Zuza e Vovò Nanu,não sei se vc está em condições...enfim,seria muito bom
ResponderExcluirObrigada sua prima Kalina Nóbrega