Ilustração de Dorian Gray
O TRANSPORTE
O transporte, na Fazenda Timbaúba, era um dos mais problemáticos, tanto pela localização da Fazenda, como pela natureza do terreno, acidentado e pedregoso. Não havia rodovia e tudo era feito por trilhas de gado que se iam alargando e terminavam numa estrada. Se é que se pudia chamar aquelas vias de estradas.
O transporte era feito, principalmente, em costas de burro. A Fazenda tinha uma bem treinada tropa (cinco burros mulos) para transporte de carga pesada, para as feiras Caicó, Jardim do Seridó e Ouro Branco. Esses burros muito bem tratados pelo tropeiro Zé Libânio, eram apelidados de:
Canário – o burro que andava no coice da tropa. Era de uma cor quase amarela e tinha fome de andar. A posição dele na tropa, era exatamente para pressionar os da frente a aumentar o ritmo da passada. Era um animal reforçado e dócil. Melado – o segundo, contado de trás pra frente. Tinha a cor de mel e um porte avantajado. Manhoso e lerdo para andar, razão por que era colocado na frente de Canário, que, vez por outra, mordia no seu trazeiro, pressionando para andar. Rabo Torto – um burro grande e castanho escuro. Quando novo, teve uma bicheira debaixo do rabo, ficando com um defeito na cauda, daí o apelido. Era cheio de manhas e gostava de morder ou dar coice, porém tinha muita força e resistência. Cacheado – era o que se podia chamar de um burro bonito. Castanho-escuro, com lavras, pêlo crescido e encaracolado. Não era dos mais fortes, mas um grande andador. Andorinha – a única fêmea e a madrinha da tropa. Tinha uma resistência física fora do normal e quase não suava. Conhecia todos os caminhos ou trilhas da região. Dizia Zé Libânio, que pelo tipo de carga, ela já sabia o destino. Tinha um ritmo alto de andar e as vezes era difícil de ser acompanhada. O tropeiro tinha um carinho todo especial pela presença da burra na tropa, enfeitando-a com metais, guizos, chocalhinhos e viseira. Quando andava, fazia um ruído todo próprio que, à distância , já denunciava a sua presença. Essa tropa era bem disciplinada e atendia ao tropeiro com as ordens verbais, bem como o estalo do chicote. Para o transporte de carga leve e à pequena distância, havia os jumentos, que transportavam lenha, água para casa e ração para as vacas do curral. Os apelidos eram Roxinho, Moleque, Rodete, Dois de Ouro e outros. O carro de bois usado somente em serviços difíceis, dentro da mata; tirar madeira, lenha ou material de construção. Para o transporte individual usavam-se os “burros de sela” especialmente treinados. Havia os cavalos, porém eram pouco usados. Os vaqueiros preferiam os “burros de campo”.
Na década de 20, o velho Zuza adquiriu um carro Ford e possuiu o automóvel enquanto existiu. Era o seu transporte de ir às feiras da redondeza. Relativo ao automóvel, consta que a introdução do mesmo na Fazenda, foi através do filho mais velho da família, chamado José Gorgônio, que havia estudado em Recife e no Rio de Janeiro.
A velha Nanu ficou muito tempo aborrecida com o fato, porém terminou se acostumando. O primeiro automóvel teria sido um “Ford de bigodes”, de segunda mão. A partir daí, havia sempre um caro na Fazenda. Houve época que existiam dois. O velho Zuza se irritava com o filho José, porém não impedia o seu interesse por carros usados. O negro Murixaba, um serviçal da Fazenda, contava que o velho Zuza certa vez explodiu com filho dizendo: “Quem tiver o seu carro velho, pode oferecer ao meu filho José, que ele compra.”
Comentários – O “Burro de sela” do velho Zuza chamava-se Redondo que o conduziu por inúmeras de viagens. Morreu de velho, nos cercados da Fazenda Timbaúba. Zé Libânio, já com a idade avançada passou para o seu filho João Libânio, que tinha as mesmas habilidades do pai, o trato daquela tropa. Os automóveis eram adquiridos por José Gorgônio, numa praça de Recife onde havia um vigoroso mercado de carros usados de várias procedência. |
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