Ilustração de Dorian Gray |
OS PROPRIETÁRIOS
No ano de 1856, quando a Casa Grande estava sendo levantada, José, filho caçula do proprietário, tinhas dois anos de idade. Certamente por iniciativa dos obreiros, a criança pôs o pé num tijolo ainda fresco, deixando gravado o seus rastro. O aludido tijolo foi depois assentado no piso da sala da escada, onde permanece até hoje.
O menino José, com aquele ato, estava, na sua inocência de criança, marcando o início de uma vida que se desenrolaria pelos oitenta e seis anos seguintes. Ali ele cresceu, constituiu família e morreu. Foi a primeira conquista daquele casarão, de construção sólida e em estilo “Colonial Rural do Seridó.”
O menino José, ficou conhecido pelo resto da vida por Zuza Gorgônio. Tornou-se um sertanejo rígido, alto e magro, tipo longelínio, olhos esverdeados e expressivos, cabelos ralos castanhos-claro, quase loiro e encanecidos prematuramente. Como o pai, Gorgônio Paes de Bulhões, tinha temperamento impulsivo, porém, perdoava imediatamente. Profissionalmente foi muito mais um boiadeiro, do que um fazendeiro. Tinha paixão pelo comércio de gado, razão pela qual realizava, como o seu pai já havia realizado no passado, demoradas viagens a cavalo, aos sertões do Piaui, a fim de comprar boiadas.
Zuza Gorgônio casou-se aos trinta e dois anos de idade, com uma prima no terceiro grau, chamada Ana Floripes de Medeiros Barros, com quem viveu os cinqüenta e seis anos restantes de sua vida. Do matrimônio nasceram cinco filhos homens e três mulheres, deixando uma multidão de descendentes.
Ana Floripes de Medeiros Barros(D. Nanu), casou-se com quinze anos de idade. Mulher de estatura física forte, altura mediana, morena cabelos pretos, ligeiramente ondulados. Igual ao seu marido, descendia, já na sétima geração de Custódia de Amorim Valcacer(*), figura discutida, ligada à história das famílias do Seridó.
A tradição oral diz ser índia a mulher Custódia, assunto que carece ainda de confirmação, entretanto, que D. Nanú tinha um tipo e temperamento índio, isso nem se discute.
D. Nanú era mulher de grande força de decisão; diziam ser ela, responsável pelo sucesso da Fazenda Timbaúba que, na maioria dos tempos, esteve sob sua responsabilidade, pelas ausências prolongadas do marido. Mulher “positiva”, não escondia o que pensava, mesmo que não fosse do agrado dos outros. Muito segura em termos econômicos e financeiros. Foi ela a maior responsável pelo patrimônio que ambos chegaram a construir.
Esse casal extraordinário fez da Fazenda Timbaúba, uma das principais fazendas típicas do Seridó do Século XIX, permanecendo intacta enquanto eles viveram.
No Livro de Casamentos da Matriz de Sant´Ana de Caicó, anos de 1867 e 1891, encontra-se o seguinte assentamento, cuja cópia, ipsis litteris, vai a seguir:
“Aos sete dias do mez de outubro do anno de mil oitocentos e oitenta e seis, no lugar denominado =Poço da Oiticica=desta Freguizia, tendo os tres pregões sem impedimento, dispensa de conseguinidade no quarto grau dupplicado, attingente ao terceiro grau simples; et coetera pela uma hora da tarde do dia mez e anno, uni em matrimonio a JOZE GORGONIO DA NOBREGA, com ANNA FLORIPES DE MEDEIROS BARRO; elle solteiro, de trinta e dois annos de idade, filho legítimo de Gorgonio Paz de Bulhões, e Mariana Umbelina da Nóbrega; já falecidos, Ella de quinze anos de idade, solteira, filha legítima de Joaquim Joze de Barros e Anna Floripes de Medeiros, já fallecida.
Ambos os contrahentes digo o Contrahente é natural Ambos os contraentes são naturaes desta freguezia; sendo testemunhas os senhores Januncio Sallustiano da Nobrega e Manoel Severiano da Nobrega ; o quaes, comigo em um termo, no verso dos pregões assignaram . Do que para constar mandei fazer este ascento em que assigno.
“Aos sete dias do mez de outubro do anno de mil oitocentos e oitenta e seis, no lugar denominado =Poço da Oiticica=desta Freguizia, tendo os tres pregões sem impedimento, dispensa de conseguinidade no quarto grau dupplicado, attingente ao terceiro grau simples; et coetera pela uma hora da tarde do dia mez e anno, uni em matrimonio a JOZE GORGONIO DA NOBREGA, com ANNA FLORIPES DE MEDEIROS BARRO; elle solteiro, de trinta e dois annos de idade, filho legítimo de Gorgonio Paz de Bulhões, e Mariana Umbelina da Nóbrega; já falecidos, Ella de quinze anos de idade, solteira, filha legítima de Joaquim Joze de Barros e Anna Floripes de Medeiros, já fallecida.
Ambos os contrahentes digo o Contrahente é natural Ambos os contraentes são naturaes desta freguezia; sendo testemunhas os senhores Januncio Sallustiano da Nobrega e Manoel Severiano da Nobrega ; o quaes, comigo em um termo, no verso dos pregões assignaram . Do que para constar mandei fazer este ascento em que assigno.
Vr. AMARO THEOT CASTOR BRAZIL”
Os filhos desse casal fora os segintes:
Basílio,que se tronou fazendeiro no Riacho Salgado, em São João do Sabgy; José que emigrou para o município e Custódia-PE e se tornou fazendeiro no citado município; Gorgônio Artur, que se tronou odontólogo e exercia a função entre São João do Sabugy e Caicó; Francisco Pereira da Nóbrega, que se formou em Direito, chegando a Desembargador no Rio Grande do Norte; João, que faleceu de um acidente com uma espingarda de caça, quando ainda adolecente; Ana, viúva do topógrafo Aureliano Gonçalves, de Caicó; Maria (minha mãe) que se casou com Clovis Lamartine de Faria, de Serra Negra e Theodora, que não se casou e, terminou seus dias na Fazenda Timbaúba, havendo falecido no Hospital de Caicó.
No quadro genealógico apresentado neste trabalho pode-se seguir as árvores de José Gorgônio da Nóbrega e Ana Floripes de Medeiros Barros, os quais se encontram pelo parentesco em vários lugares, sendo ambos descendentes do português Pedro Ferreira da Neves e Custódia de Amorim Valcacer,tida como índia pela tradição oral e familiar.
(*) – No primeiro capítulo do livro “Velhas Famílias do Seridó”, de Olavo Medeiros Filho diz o seguinte: O português PEDRO FERREIRA DAS NEVES, também conhecido por Pedro Velho, contraiu matrimônio pela última década do século XVIII, com CUSTÓDIA DE AMORIM VALCACER,de Mamanguape-PB.
A crer-se na tradição familiar, Custódia teria sido índia, tendo seus pais abrigado em sua morada o português Pedro Velho, ferido em combate contra os indígenas. Recuperando-se dos ferimentos, o mesmo teria se casado, por gratidão, com uma filha do casal de índios, à qual fez batizar como nome de Custódia.
Boa Noite!
ResponderExcluirCaro Pery.
Sou de Santos/SP e tenho entre meus antepassados um sobrenome com o qual sempre fui curioso e por essas bandas paulistas não o tenho visto.
Meu avó materno chamava-se José Gorgônio Amorim, não o conheci por morreu com 33 anos quando minha mãe tinha somente 9 anos. Era natural (creio) de União dos Palmares/Alagoas. Meus tios e tias usavam o sobrenome Gorgônio Amorim.
Quem sabe haverá parentesco?!
José Roberto Pino
Sou tataraneto uns dos tataranetos de Januncio Salustiano da Nóbrega ,sendo assim bisneto de Diógenes Celso da Nóbrega, meu avô filho mais velho... Boa noite!
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