Ilustração Dorian Gray
IX - OS ANIMAIS DE TRABALHO
Os animais de trabalho são peças necessárias no funcionamento de uma fazenda de criar. A importância era ainda maior na Fazenda Timbaúba, pelo espírito tradicionalista de se fazer as coisas. Ali, usava-se o animal de trabalho em quase todas as funções possíveis. Por um motivo que eu só vim descobrir depois, eram certas peculiaridade de cada animal: o cavalo tem o casco que não suporta o chão pedregoso do Seridó; em poucos dias de trabalho, está estropiado. Em seu lugar, usava-se o burro mulo, que tem um casco tipo concha, rusticidade e resistência física. Os vaqueiros tinham os “burros de campo” para o trabalho de vaquejador, os “burros de sela” para suas viagens, alguns macio de andar e preferidos pelo velho Zuza; a “tropa de burros” estava sempre pronta para transportar a qualquer carga pesada desde a Fazenda Timbaúba, para onde fosse necessário.
Os jumentos ou jegues faziam o serviço mais leve e a pequenas distâncias: transporte de água nas “ancoretas”, lenha para abastecer a casa, e ração para as vacas de leite. Os animas de tração eram os “bois mansos” que puxavam o “carro de bois”, os cultivadores, o engenho de rapaduras, e o couro de mover terra, muito usado na manutenção e limpeza das “cacimbas de beber” do gado, cavada no leito do rio. Por uma questão de justiça, tem que se registrar como animal de trabalho, os cachorros dos vaqueiros. Lá havia vários deles; um preto chamado de “Veludo” era o melhor auxiliar de vaqueiro. Ajudava a localizar os bezerros das vacas “paridas no mato” e segurar um novilho brabo, pelas ventas, enquanto chegava o vaqueiro para contê-lo. Os carneiros, amansados para o divertimento dos meninos, também faziam parte do patrimônio da Fazenda, compondo uma espécie de setor recreativo. Os animais de trabalho recebiam um tratamento especial pela sua importância. Os burros, cavalos e jumentos, tinham direito, diariamente, uma mochila de milho, pela manhã. Os “bois mansos” comiam uma ração de caroço de algodão, ao meio dia. Quanto aos carneiros, viviam pelo terreiro da Casa Grande, aproveitando os restos de ração dos outros animais e recebiam uma ração especial de batata doce picada, para mantê-lo com o pelo fino. Os cachorros recebiam restos de comida da mesa, soro de queijo o leite cru cedinho no curral. Esses seres formavam uma classe especial de animais da fazenda, tratados todos como muito carinho e respeito, mesmo quando em função.
“Anda a frente boi mansinho Anda a frente sem parar! Obedece ao seu carreiro Que te ordena a caminhar!”(1)
(1) Tejo/Orlando – “Zé Limeira, o poeta do absurdo” União Companhia Editora – J. Pessoa – 1978 4ª. Edição pág. 162.
As “burras de sela”, nas fazendas, eram animais especiais. Possuíam dotes individuais, como passadas macias, “galopes em cima da mão” e resistência física, que as tornavam preferidas. Essas qualidades só se encontravam nas fêmeas, nos machos, dificilmente era encontrado um com aquelas qualidades. O velho Zuza, meu avô materno, tinha a sua burra preferida com o nome de “Manchada” por conta de uma mancha grande na pelagem. A do meu pai chamava-se “Desejada” uma bela montaria trazida lá da ribeira do Espinharas. Era costume da época, selecionar essas burras exclusivamente para os proprietários das fazendas. Elas substituíam os veículos motorizados que ainda não haviam se popularizado no sertão.
Extraído do livro "TIMBAÚBA - Uma fazenda no século XIX" -Nossaeditora Ltda-1984-Natal/RN |
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