Ilustração de Dorian Gray |
A “CASA DE FARINHA”
Outra pequena indústria decorrente da agricultura era a “CASA DE FARINHA”. A mandioca “Manipeba”, variedade tardia, plantada no salto do algodão, dava grande volume de raízes e a farinha era de primeira qualidade. Plantada e colhida de um ano para o outro, logo após a colheita do algodão, quando então era feito a desmancha ou farinhada.
Era uma atividade integrante, pois ocupava toda a mão de obra ociosa existente. Desde meninos, mulheres e homens; havia trabalho para todos. A desmancha mais parecia uma festa; além do pessoal da casa, apareciam sempre visitantes que, de certa forma, davam alguma colaboração, puxando a roda, cevando ou raspando a mandiocas.
A “Casa de Farinha”, localizada ao lado da Casa Grande, quase atrás, ainda está lá, pronta para ser usada. É um mecanismo dos mais simples e rotineiro, dos muitos que existem por todo Nordeste; uma roda de madeira, com aproximadamente um metro e meio de raio, montado em cavaletes de madeira, fincados no chão.
Um veio centrado de ferro serve de apoio a uma parelha de homens fortes, que aciona a roda. Uma correia torcida de couro cru (relho) transmite ao “rodete”, que atinge alta rotação, para conseguir triturar as raízes que se transformam em massa.
O “rodete” é um tarugo de madeira, em forma de rolo, com serrinhas de aço, aplicadas longitudinalmente destinadas a desmanchar a mandioca. A massa conseguida, depois de lavada, para tirar a goma, é enxuta na prensa, peneirada e levada ao forno para torrar, terminando aí a operação de fabricação da farinha.
A prensa, feita em madeira, muito se assemelha à prensa de enfardar algodão, sendo em menor proporção. Um fuso, também em madeira, acionado por paus que fazem as vezes de almanjarras, uma concha, onde a massa é contida e espremida, com ajuda de folhas de carnaubeira.
O forno, que me parece, deveria ser chamado de torrador, é uma alvenaria de tijolos especiais, refratários, em forma de mesa, embaixo da qual tem uma fornalha, que ativada com lenha de jurema, muito abundante na região. No forno, onde se processa a última etapa na fabricação da farinha, também se assam bejús, tapiocas ou bolos de mandioca com coco.
Com a “Casa de Farinha”, a Fazenda Timbaúba produzia e armazenava farinha de mandioca e goma para o ano inteiro, através da cobrança da conga, que era a parte da produção que tocava a fazenda. Da farinha, era em média uma cuia para fazenda e seis para o proprietário da mandioca desmanchada.
Quanto à goma se observava o mesmo sistema, porém, numa proporção diferente (uma maior parcela para a fazenda). Havia sempre um acerto prévio, com vista a esses critérios.
Quanto à goma se observava o mesmo sistema, porém, numa proporção diferente (uma maior parcela para a fazenda). Havia sempre um acerto prévio, com vista a esses critérios.
* Curiosamente, a parte de tirar a goma, lavá-la e armazená-la, era trabalho das mulheres. D. Nanú, a dona da “casa de farinha” não abria mão, ela levava uma equipe de mulheres servidoras da casa grande para fazer essa tarefa. Antes de a massa ir para prensa, era coada num tecido de algodão da malha bem fina, e assim, se conseguia uma goma de alta qualidade.
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