quinta-feira, 24 de março de 2011

TIMBAÚBA - XII

Ilustração de Dorian Gray


O ENGENHO

O ENGENHO DE RAPADURAS, nunca chegou a ser uma atividade expressiva. Os açudes não davam bons canaviais.  Mesmo assim, havia um pequeno engenho (Banguê) que, de tempos em tempos, era mudado de lugar para aproveitar o canavial da fazenda ou para atender algum vizinho parente. Era montado ao relento; só o “cozimento”, era abrigado sob um telheiro.

  Quando conheci, estava instalado nas imediações do açude novo (Goití), nas terras lá do fundo da propriedade. Era um equipamento dos mais simples, de tração animal com moendas em pé. Uma almanjarra, onde era atrelado uma junta de bois a girar o dia inteiro, com intervalos para descanso.

Um homem colocado ao pé do engenho, ia metendo  entre as moendas, duas canas de cada vez; a garapa caia nas calhas e era conduzida para as tachas do “cozimento”.
Esse por sua vez, era composto de cinco tachas instaladas em cima de uma fornalha de alvenaria, alimentada à lenha. A garapa escorria para primeira tacha, onde começava a fervura e limpeza do caldo.  Usando cuias, presas em varas, tinha-se um instrumento rústico, igual a uma concha grande (“passadeira”), usado para transferir o caldo quente de uma tacha para outra, de acordo com o andamento do processo de cozimento.

Na última tacha, a menor de todas, o caldo já apurado e transformado em mel, permanecia fervendo até atingir o ponto de rapadura; daí era transferido para as gamelas, colocadas em cima de mesas, onde também já se encontravam as formas.  À medida que ia esfriando e açucarando, ia sendo “informadas”, com ajuda de palhetas de madeira. 
A esse ato de “informar”, chamava-se “caxiar”, derivado da palavra caixa. As formas eram de madeira de lei; uma prancha “informava”, de uma só vez, uma média de 15 rapaduras.
O “mestre de rapaduras” era um especialista exigido no engenho, que trabalhava no “cozimento”; por ser uma atividade muito específica, era contratado fora. 
Esses mestres ainda existem no Seridó e trabalham sob contrato verbal, porém muito respeitado. Atualmente eles voltam aos mesmos engenhos e, quando solicitados, normalmente dizem: “... vou tirar a moagem da Fazenda...”

A produção de rapaduras, na Fazenda Timbaúba, sempre foi muito pequena, em média de 15 cargas por moagem, atendendo apenas ao consumo interno da Fazenda.  A rapadura ali fabricada, não tinha o valor comercial daquelas vindas do Brejo ou do Cariri.  
Do mesmo modo como a farinhada, a moagem era mais um acontecimento social do que uma atividade econômica. Era pretexto para as visitas, os encontros, os namoros e, conseqüentemente, os casamentos. 
 Para os meninos a moagem representava mais uma diversão na Fazenda, onde eles bebiam a garapa, faziam puxa-puxa, alfinim e brincavam na bagaceira.
O engenho foi desmontado aí por volta de 1940, no período em que o velho Zuza já não tinha muita atividade por conta da idade.

O engenho era tocado pelo pessoal fixo da Fazenda. Havia, no entanto, duas figuras que aparecia lá e eram contratados, o Sr. Jeremias Herculano que fazia questão e ser o “sevador” de cana no engenho ( aquela pessoa que abastece o engenho com cana para esmagar e tirar o caldo) e o mestre de rapadura, um amigo do tio José Gorgônio, cujo nome nunca consegui gravar;sei que  era natural daquela área de Caicó e sempre atendia ao meu tio José.      

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