domingo, 24 de outubro de 2010

DIA DO AVIADOR

 Neste  23 de outubro, dia do aviador, não poderia deixar de registrar aqui a minha homenagem a todos que superam seus limites dominando a máquina de voar, e que fazem dela, o seu instrumento de trabalho.
 Uma atividade extremamente envolvente que, se por um lado seduz pela sensação de liberdade e emoções, encurta distâncias, integra povos de todas as nações, por outro, abre horizontes ilimitados nas pesquisas do espaço aéreo, uma eterna busca da humanidade. 
Para àqueles que estão no ar constantemente, vai aqui, o encanto de alguém que no passado também conviveu com a natureza observada de  um  ângulo só oferecido aos aviadores,e como já dizia o nosso mestre Alberto Santos Dumont:
 As coisas são mais belas quando vistas de cima”.

Foto obtida no Google

sexta-feira, 22 de outubro de 2010


O ENCANTO DA LUA CHEIA
A região do Seridó, com o seu clima semidesértico, apresenta aspectos paisagísticos de rara beleza.  Nas noites de verão, com a atmosfera isenta de umidade, as nuvens desaparecem, o céu torna-se transparente e cristalino, realçando os corpos celestes.
 A lua, em todas as suas fases, tem o encanto próprio do período em que se encontra. No plenilúnio, ela surge no horizonte no mesmo instante em que o sol está no ocaso.  A partir daí ela assume inteiramente à noite, oferecendo um espetáculo majestoso. 
Desenrola-se uma sequência de quadros belíssimos e variados, com cores fortes, indo desde o vermelho agressivo do sol poente, até a luz fria, prateada e difusa, quando a lua caminha na cumieira do céu. Ao nascer, ela se apresenta esférica, crescida, cheia como se fosse explodir. 
 Mais tarde vai se distanciando, mostrando as sombras da face, levando o sertanejo a criar fantasias em torno da figura de São Jorge e seu cavalo.

Neste ambiente celestial a natureza se mobiliza para um espetáculo pleno.  As montanhas limitam o espaço formando o palco; as árvores ornamentam o ambiente. O farfalhar das copas e o ranger dos galhos, acionados pela brisa, produzem o fundo musical.
Os ariscos tetéus sempre alertas e as aves noturnas, como as corujas, as curicacas, os carões, além dos galos do terreiro e os guinés (grandes solistas), emitem seus cantos acompanhados pelo coaxar dos sapos nos açudes.
Todo esse madrigal se apresenta harmoniosamente disciplinado, como se fosse regido por um maestro invisível. Tudo fartamente iluminado pelo luar e os milhões de cintilantes corpos celestes, cuja manifestação de alegria é demonstrada pelas estrelas cadentes riscando o espaço infinito como fogos de artifício.


Este espetáculo vivo se desenvolve num crescente, desde o anoitecer até a madrugada, quando a lua fecha a cortina com belíssimos fios dourados refletidos nos flocos de cirrus que se aventuram a ofuscá-la.
            O sertanejo agraciado por esse deslumbre da natureza, festeja cantando em prosa e verso, assim como fez o poeta assuense *Renato Caldas:
Logo de noite,Quando vorto do trabáio,
Pego a viola e me espáio,
Coméço logo a cantá.
Enquanto a Lua
Tá no Céu dipindurada
Ouvindo a minha toáda
Com vontade de chorá.

Oh! Lua cheia, Oh! Lua cheia.
Não óie nas teia
Da casa de meu amô.
Pruquê se oiá,
Se espiá,
Cabô-se lua cheia
O teu furgor.

Eu tenho raiva
Quando vejo a lua cheia,
Espiando pelas teia
Da casinha do meu bem!
Eu penso inté
Qu'essa lua tão marvada,
Qué levá a minha amada
pra uma casa que ela tem.

Mas, se eu pegasse
A lua pelas guéla,
Dava tanta tapa nela
Qui nem é bom, se falá...
Qui me importava
Qui o mundão escurecesse,
Ou qui ela se escondesse,
Só com medo de apanhá.
Se Deus deixasse
Se Deus aconsentisse,
Qui pro céu assubisse
E fosse lua também...
Passava a noite,
Lá no céu dipindurado,
Oiando pelo teiádo
Da casinha do meu bem.

*O poeta assuense Renato Caldas (08.10.1902-26.10.1991) é considerado o maior representante da poesia matuta norte-rio-grandense. Comparado a nomes como Catullo da Paixão Cearense e Zé da Luz, Caldas conseguia, de modo simples e espontâneo, abordar temas como o amor, a vida no meio rural, a simplicidade do homem do campo, a natureza e a beleza feminina. Recebeu a alcunha de “O poeta das melodias selvagens” por causa da rudeza e originalidade de seus versos. A obra mais conhecida do poeta chama-se Fulô do mato (1940).



Fonte e Fotos: Google

terça-feira, 19 de outubro de 2010

UM HOMEM FELIZ



Há dias passados, saí de casa pela manhã, bastante aborrecido. Na véspera, quase às 18 horas, num engarrafamento do trânsito, bem ali defronte a AABB, um “gajo” usando uma camionete de duas boleias, ultrapassou-me com tanta velocidade, tirando fino, que além do susto deixou pendurado o retrovisor do meu carro. Naquele congestionamento, nada pude fazer, a não ser, voltar pra casa e fazer uma avaliação da ocorrência.

Saí à procura de alguém que resolvesse o problema.

Fui perguntando a um e a outro e, finalmente, encontrei quem me orientou:
 “Vá na avenida 3 com a 11 no Alecrim, lá você encontra quem entende de retrovisor.”

O Alecrim é um bairro, para quem não conhece, um Deus nos acuda! Ruas identificadas por números (os nomes são ignorados), barulhentas, congestionadas, lixo por toda parte, comércio popular intenso com pessoas no meio das ruas oferecendo todo tipo de mercadoria e serviços, desde peças de reposição para automóveis, TVs e computadores.

Circulando lentamente pela Av. 3, consegui chegar ao tal cruzamento indicado. Mal acabara de entrar na Av. 11, uma voz feminina, aos berros, me abordava: “É retrovisor ?” Confirmei, e a pessoa me indicou o lugar para estacionar.

Logo aproximou-se um rapazola de uns 25 anos, usando roupas um tanto descuidadas no aspecto e na limpeza. “É você o especialista em retrovisor?” perguntei, ele confirmou com um aceno de cabeça e foi logo apalpando a peça sinistrada. Fez um exame superficial e adiantou: “Por 35 paus deixo ele zerado”. Meio desconfiado, autorizei o serviço.


O jovem já trazia nas mãos algumas ferramentas de trabalho, sem demora iniciou o serviço, agindo rápido e enquanto trabalhava, cantarolava aquela música popular de Reginaldo Rossi:

“Garçom, aqui nesta mesa de bar... ”

Foi aí que perguntei: “Onde está a sua oficina?

- “É aqui mesmo no meio da rua embaixo dessa árvore”.
A minha insegurança aumentou, mas como já havia autorizado o serviço, resolvi pagar pra ver. Em poucos instantes o retrovisor estava todo desmontado em cima de uma bancada rústica, na sombra da árvore, confeccionada com pedaços de tábuas.
De vez em quando ele falava autoritariamente, para a mulher: “Traga uma chave de fenda do cabo amarelo!..”, e assim, todas as ferramenta que necessitava a mulher atendia prontamente. E ele seguia firme e rápido no ofício que escolheu como meio de sobrevivência, sempre cantarolando.


Nessa altura a jovem mulher, já demonstrando um adiantado estado de gestação, ofereceu-me uma cadeira para sentar, água e café, tudo servido ali mesmo embaixo árvore. Aceitei a cadeira e recusei o restante. O diligente rapaz olhou para mim me tranqüilizando: “Patrão, em meia hora tá tudo pronto”.

À medida que o tempo passava comecei a sentir confiança nele. O rapaz demonstrava que sabia o que estava fazendo e não perdia tempo com nada; enquanto trabalhava e cantarolava, via-se nele, apesar de ser jovem, um homem maduro, profissional qualificado e demonstrando satisfação no que fazia.

Dentro do prazo determinado, instalou no local o retrovisor reparado, e mostrando certo ar de vitória dirigiu-se a mim:
“Pronto chefe, veja se está a seu gosto.”

Perguntei quanto devia pagar, e ele repetiu os $35 paus como havia combinado. Paguei $40 pelo bom atendimento, e saí dali pensando que mesmo naquelas condições rudes, quase desumanas, ele fazia o seu trabalho com tanta presteza e dignidade, que apesar de tudo, aparentava ser“um homem feliz.”

Libertando-me do complicado trânsito do Alecrim, voltei para casa sem o mau humor que havia me assaltado naquele dia, e por incrível que pareça, me surpreendi solfejando a melodia brega de Reginaldo Rossi...

Garçom! Aqui!

Nessa mesa de bar

Você já cansou de escutar

Centenas de casos de amor...

Garçom!

No bar todo mundo é igual...


Bairro do Alecrim-Natal,RN

 
Fotos obtidas no Google