sábado, 11 de dezembro de 2010

SERRA VELHA – Escalada em busca de reviver um passado


         Certo dia decidi fazer uma aventura em Serra Negra: subir a Serra Velha pela trilha da “Escadinha”.  Convidei um caçador de mocó daquela região (Antônio, dos Eustáquios) para ser o meu guia. Marcamos a data e a hora. Quando cheguei às primeiras horas da manhã no ponto de encontro ele já estava lá. 
  Iniciamos à caminhada em um ritmo moderado, ele ia à frente com uma foice de roço para abrir a trilha, uma espingarda de soca e eu o acompanhando. 
         A nossa conversa era só amenidades, sobre os novos moradores da cidade, as fazendas que haviam sido vendidas, a escassez de caça na serra; íamos distraidamente conversando, escutando à distância o martelar ritmado de uma Araponga, gritos dos mocós, os rangidos das árvores os aromas e o farfalhar das folhas  vindos da mata; o orvalho ia ensopando as nossas roupa, mesmo assim  andávamos sem pressa.
 Logo mais o sol ia aparecer para nos enxugar. À medida que avançávamos, ganhava-se altitude e o horizonte alargava-se descortinando uma imagem soberba para todos os lados.  
A Serra do Tronco com um tom cinza, mesmo à distância, sentia-se a força dominadora da sua presença na paisagem, e me veio à lembrança do velho caçador Cazuza Sátiro, enfrentando as onças ferozes enfurnadas nas grutas de pedras à espreita da caça.
 O rastro do rio Espinharas que surge na ponta do “Serrote da Igreja”, correndo no rumo norte sumindo por trás da Serra Velha. As fazendas que iam surgindo parecia miniaturas de casas de bonecas.
 A “Escadinha” tem seus lances emocionantes com degraus formados pela ponta dos lajedos que afloram, exige habilidades e cuidados para transpô-los. Vez por outra, através dos ramos verdes dos Cumarús  visualizava-se uma ligeira vista da cidade.
 No cimo do rochedo principal, havia uma passagem perigosa que o guia atravessou sem problemas; pedi ajuda a ele, para me sentir seguro.
 Chegando ao topo do rochedo, lentamente, quase em reverência, ficamos frente a frente com um visual deslumbrante que se estendia até onde a vista alcançava. Ficamos alguns minutos sem dar uma palavra,  para melhor aproveitar as belas paisagens que a natureza nos oferecia naquele momento, e ter o prazer de “escutar o silêncio” que só naquele ambiente se consegue.  
         A cidade “Serra Negra” bem aos nossos pés, realçando a Igreja de N. Senhora do Ó, parecia uma miniatura urbana  com pequenas figuras vivas   movendo-se dentro dela.
 Ali ainda se encontrava os vestígios da permanência de Julio Batista, um parente nosso, quando  esteve  naquele lugar em tratamento de saúde.  
 Fizemos um circuito passando por vários pontos de interesse paisagístico e paramos alguns instantes em cima de uma grande pedra de onde se via os mocós numas locas mais adiante.
 Antônio fez um arremedo, os bichinhos apareceram,  ele atirou abatendo um deles.   No momento que saltou  para apanhar a caça abatida, foi laçado no ar por uma cobra jibóia  ( lá é chamada de cobra de veado). Numa rapidez instantânea de quem aprendeu desde cedo a ter o instinto de sobrevivência  houve tempo dele se livrar dela e abatê-la com um tiro de espingarda.
 Paramos à sombra de uma árvore para se tirar o couro da cobra, que tinha bom valor de mercado. A tarde já ia chegando; hora do regresso. Iniciamos a descida pela rota alternativa chamada 'Agreste', bem mais fácil de ser usada. 
 Foi um dia diferente que me fez relembrar outras visitas que havia feito anos atrás, e me revigorou as forças que estavam meio amortecidas por conta da vida sedentária na cidade.
  Antônio foi bem recompensado com uma caça para o almoço do dia seguinte e um couro de cobra que valia mais do que um dia de serviço na lavoura.
         Apesar da hora avançada fizemos uma descida lenta e sem problemas, caminhando em fila à moda dos índios e assoviando aquela musica de João do Vale muito apropriada para aquele momento: “A ema gemeu/ No tronco do juremá....”


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  A “Escadinha” ainda tem condições de uso necessitando apenas de uma revisão na trilha melhorando as passagens mais difíceis. Uma Informação importante que chegou de última hora é de que em dias passados, um domingo de novembro/10, alguns  de serra-negrenses, usando uma trilha altermativa, subiu a Serra Velha e  fez  um Pic-nic no topo do LAGEDO GRANDE, uma iniciativa oportuna que deve ser repetidas  antes que os esportistas do “Eco-Esporte de Aventura” chegue lá primeiro.

Foto obtida no GOOGLE

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