domingo, 7 de fevereiro de 2010

Lembrando o Seridó...

“A RETIRADA”

Os meus avós Zuza Gorgônio da Nóbrega e Ana Floripes de Medeiros Barros, eram possuidores de duas grandes propriedades. FazendaTimbaúba, onde residiam, na ribeira do rio do Espírito Santo ( era assim que minha avó chamava o rio Quipauá ) no município de Ouro
Branco e a Fazenda Jataí no riacho do Salgado, Município de São João do Sabugi.
Por questões climáticas, a Fazenda Jataí, era sempre mais beneficiada
com chuvas do que a Fazenda Timbaúba.
Por conta desse fenômeno, no mês
de setembro de cada ano, os “velhos” despachavam uma “retirada” de garrotes para o Jataí, a fim de aproveitar o restante da pastagem ainda abundante nos cercados.
A viagem levava dois dias de caminhada,de sol, calor e poeira.


Naquela fazenda os garrotes iam se desenvolver no inverno seguinte, eles retornavam “novilhotes”, alguns já no ponto de abate, preferidos pelos magarefes por conta da carne macia que alcançava melhor preço no mercado.
Essa manobra era repetida anualmente e o encarregado de acompanhar a manada era o meu primo Zola, levando com ele o vaqueiro da fazenda, Zé Chico e o arrieiro José Libânio.

Certa vez,tive a oportunidade de participar de uma dessas “retiradas”, que teve o seguinte desenrolar:
– Reuniu-se a “garroteira” no curral dos fundos da Fazenda Timbaúba, num local chamado Logradouro.Prepararam-se os burros de campo, milhados e os arreios revisados.
O arrieiro José Libânio arrumou o burro de carga, com os “caçuás”onde levava os alforges com paçoca, queijo de coalho, rapadura para alimento dos tangerinos e uma “borracha”(*) abastecida com água potável.

A partida deu-se ao amanhecer do primeiro dia: a manada saiu pelos fundos da propriedade no rumo do poente, passando-se ao largo da Fazenda Pedreira, deixando-se às esquerdas a localidade de Palma.
Atravessava-se os Campos dos Cordeiros, uma região plana que em outros tempos serviu de habitat para manadas de emas.
Na “retirada” era mantido o ritmo imposto pela própria manada, para evitar que algum daqueles garrotes não agüentasse a caminhada. No Campo dos Cordeiros, o sol já a pino, fez-se uma parada para o rebanho beber nos poços do riacho; na oportunidade paramos à sombra dos juazeiros para dar um descanso a todos e servir o almoço.
Lá pelas duas e meia da tarde, quando o sol já descambava, a marcha foi retomada para se chegar a Fazenda Quixeré, do nosso primo Zé Melão,que já nos esperava com uma ceia à base de coalhada, jerimum com leite, batata doce cozida, cuscuz, um aromático café feito em coador de pano e outras iguarias da terra.
A garrotada, nessa altura, já estava presa nos currais da fazenda onde o primo Zé Melão havia providenciado como ração,palha de milho para a “maromba” agüentar a marcha do dia seguinte.
A chegada foi pelas 5 da tarde, a tempo de tomar um bom banho no poço do riacho para refazermos as nossas energias. Pernoite em redes no alpendre da fazenda, uma noite enluarada bastante tranqüila.


No dia seguinte, a saída deu-se depois de um café reforçado, o normal naquela fazenda, com os caprichos de D. Guilhermina a esposa de Zé Melão.
A etapa seguinte era mais curta; atingimos a Fazenda Pedrecal, na periferia de São João do Sabugí, da família do fazendeiro Antônio Basílio cuja esposa era tia de Zola.
“Arrodeamos” a manada na pátio da fazenda enquanto almoçávamos, e em seguida prosseguimos no rumo da Fazenda Jataí, cuja chegada aconteceu por volta das 17 horas.
Nos dirigimos para a casa do tio Basílio Gorgônio da Nóbrega,que já estava ansioso a nossa espera ; o seu vaqueiro foi logo tomando conta dos garrotes encaminhando para um cercado onde havia abundância de pastagem.


Na Fazenda Jataí, permanecemos dois dias, visitando os parentes que habitavam o riacho do Salgado, onde fomos recebidos com àquela gentileza própria do seridoense.
O retorno deu-se em seguida, com a saída ao “quebrar da barra” para chegarmos na Fazenda Timbaúba na “boca da noite”.

Neste percurso, o arrieiro José Libânio fez uma parada no Riacho de Fora, um sítio dos meus avós, onde encontrou as pinheiras bastante carregadas, dando para encher os caçuais e nos fartar com pinhas deliciosas e doces.

Uma viagem de rotina, na atividade pastoreio,muito comum no Seridó.

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Cabaças que tem o formato da "Borracha"

* "Borracha"= é uma vasilha para transportar água de beber,feita de couro de ovelha com o carnal para fora,que tem o formato de uma 'cabaça' alongada( frutos de plantas da família das cucurbitácias).


Todas as fotos retiradas do GOOGLE

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