domingo, 31 de janeiro de 2010

AEROSTAÇÃO/AVIAÇÃO

Alberto Santos Dumond

Augusto Severo de Albuquerque Maranhão


Ainda hoje faz-se certa confusão entre Aerostação e Aviação.

São primas-irmã, mas bem diferentes.
Aerostação é o estudo do mais leve que o ar, os balões, seu desenvolvimento e sua utilização prática.

A aviação é o estudo do mais pesado do que o ar,respeitando-se as leis de física, para se chegar ao avião como instrumento de utilização pelo homem.
É nesse ponto que está à confusão que se faz ao ligar o nome do nosso aeróstata Augusto Severo, à aviação.

Na verdade todo o seu trabalho estava ligado diretamente a aerostação.
Mais de um século antes de Severo chegar à França, já pesquisavam o assunto:
Em 1783 Joseph e Etienne Montgolfier, em Annonay/França construíram um grande invólucro de papel seda com uma abertura na base para ser inflado com fumaça de palha queimada.
Pilâtre de Rosier e o seu companheiro Marquês d'Arlandes, no dia 21 de novembro daquele mesmo ano, subiram num balcão livre em Bois de Boulogne,alcançaram 300 metros de altura e desceram sem problemas a cerca de um quilômetro de onde haviam partido.
O francês Henri Giffard voara precariamente a uma velocidade de um quilômetro por hora, num balão em forma de charuto.


Alberto Santos Dumont contorna a
Torre Eiffel com o Dirigível
Nº 6 e vence o prêmio Deutsch (19/10/1901)


Em 08 de novembro de 1881, o brasileiro *Julio César Ribeiro de Souza, nascido no estado do Pará, realiza em Paris o primeiro vôo público e cativo do aeromodelo, que sobe avançando para frente, feito repetido no dia 12 do mesmo mês.

Julio César Ribeiro de Souza

Em 1883 os irmãos Gaston e Albert Tissander, usando um motor elétrico, atingiram cinco quilômetros por hora. Em 1884, no exército francês o coronel Charles Renard e o tenente Arthur Krebs, usando um balão impulsionado com um motor elétrico, alcançaram 23 km por hora.
O assunto empolgava as pessoas, e até entre os padres surgiu um pesquisador, como foi o caso de padre brasileiro, Lourenço de Gusmão,que em 1709 escandalizou a igreja com o seu invento que denominou de“Passarola”.

Seguindo o rastro desses pioneiros, aqui no Brasil,estava Alberto Santos Dumont e logo depois Augusto Severo de Albuquerque Maranhão.

Santos Dumont, em 1891, depois de ler tudo que se relacionava com os balões e a literatura do escritor Julio Verne, decidiu partir para Paris, já emancipado, a fim de realizar o seu sonho.
Teve o apoio do pai, um rico plantador de café no Brasil, que lhe deu os meios para viver na França e pôr em prática às suas idéias.
O pai disse-lhe uma frase:
“Prefiro que não se faça doutor.”
Aí começou a sua vida em busca do domínio dos balões; continuou suas pesquisas até chegar ao avião.
Severo, motivado pelo que já se fazia na Europa, passou a se interessar pelo assunto
e foi aumentando os seus conhecimentos com algumas experiências sem resultados práticos aqui no Brasil.
Chegou a conclusão que teria de ir para Paris onde achava que venceria com as suas teorias e conhecimentos aqui acumulados.
Reuniu os meios e lá chegando iniciou a construção do seu balão; o escritor Paul Offmann no seu livro “Asas da Loucura”, p. 69, escreveu:

“Inspirado nos trabalhos de Santos Dumont,
Severo construíra um aeróstato batizado de PAX.
Acompanhado de Saché, o maquinista(mecânico), iniciou a subida. Mas as fagulhas do motor a petróleo inflamaram o balão e o hidrogênio explodiu.”

Santos Dumont, tentando explicar as causas do acidente de Severo,
assim registrou no seu livro, “Os Meus Balões”.p. 148:

“Uma das hipóteses pelas quais pode se explicar o terrível acidente sobrevindo ao PAX, dirigível do infortunado Augusto Severo,se relaciona com este grave problema de válvulas (válvulas desegurança).
O PAX, inicialmente tinha duas válvulas.
Antes, porém de partir para a sua primeira e última viagem, o Sr. Severo, que não tinha prática aeronáutica, fechou uma com cera.
Ora, dado que a pressão atmosférica decresce com a altitude, a subida dum dirigível deveria ser lenta e limitada:- para dilatar o gás basta uma subida de alguns metros. (...)Parece que no mesmo instante em que o PAX deixou a terra(...) parecia um foguete, e a dilatação, a explosão e a horrorosa queda não foram senão um encadeamento de conseqüências”.

Especificamente, no caso de Severo, foi uma frustração para o Brasil, o acidente que o vitimou no dia 12 de maio de 1902.
Nunca se soube e nem vai se saber os seus planos e as soluções que ele teria dado aos balões para se tornarem máquinas modernamente utilizáveis.
Os registros históricos estão aí para serem consultados.
Por conta desse infeliz acontecimento, e pela ausência de anotações técnicas de Severo, por mais esforço que se faça em favor do aeróstata, que
passou para história, como um mártir da aerostação.


*Julio César Ribeiro de Souza –(Acará, 13 de junho de 1843-Belém, 14 de outubro de 1887).
Inventor brasileiro, reconhecido como o precursor da dirigibilidade aérea. Em 1874, depois de observar o vôo de pássaros amazônicos, passa a dedicar-se ao estudo das ciências aeronáuticas.
Após seis anos de pesquisas, Ribeiro de Sousa acredita que os balões devem ter formato assimétrico, com o centro de empuxo à frente, formato já preconizado e utilizado por vários inventores franceses, como Guyot, Eulriot e Pierre Jullien. Após ter realizado conferência no Pará sobre suas idéias, parte para o Rio de Janeiro, onde vai ao encontro do Barão de Teffé, conhecido e respeitado na comunidade científica brasileira.
O Barão de Tefé analisa os estudos de Júlio César Ribeiro de Sousa, fica entusiasmado e pesquisa por um mês material europeu sobre aeronáutica. Escapou-lhe, porém, o fato de que muitas das idéias de Júlio César Ribeiro de Sousa já haviam sido utilizadas por inventores franceses.
Desta forma Ribeiro de Sousa consegue apoio do Instituto Politécnico do Rio de Janeiro então a maior instituição científica da América Latina. Com o apoio do Instituto e do governo imperial, consegue uma verba (20 contos de réis) da província do Pará.

Com estes recursos parte para à França e na Casa Lachambre em Paris encomenda a construção de seu balão batizado Le Victoria nome de sua esposa.
Antes do início de sua construção comparece à Sociedade Francesa de Navegação Aérea expõe suas idéias e providencia a patente de seu invento: o "balão planador".

Patenteou seu invento nos seguintes países: França,Estados Unidos,Alemanha,Inglaterra, Alemanha,Rússia,Portugal,Áustria e Brasil.
No Brasil, são feitas demonstrações no dia 25 de dezembro de 1881, no Pará, e em 29 de março de 1882, no Rio de Janeiro, sendo que nesta última o balão sofre um rombo, ficando seriamente avariado.

Consegue no Pará a liberação de mais 36 contos de réis. Retorna a Paris e encomenda a construção de seu grande balão, com 52 metros de comprimento e 10,4 metros de maior diâmetro.
Em 12 de julho de 1884, na Praça da Sé em Belém, Ribeiro de Sousa tenta realizar a ascensão de seu grande balão, então denominado Santa Maria de Belém.


A fim de produzir o hidrogênio necessário para inflar o balão, ele conta com a ajuda de pessoas esforçadas, mas inexperientes. Os materiais e equipamentos são manipulados de forma incorreta o que acaba por danificar e impossibilitar a experiência.
Em 1886 conseguiu da Assembléia do Governo do Pará a quantia de 25 contos de réis.

Munido destes recursos retorna à França e constrói seu último balão: o Cruzeiro, com o qual realizou demonstrações públicas.
Ao chegar a Paris propôs debates públicos com Renard e Krebs na Sorbonne e na Academia de Ciências da França, mas é ignorado pelos capitães franceses.
Em seu editorial de 13 de maio de 1886, o jornal parisiense "L'Opinion" publica um histórico das realizações de Ribeiro de Sousa, desde a aprovação de suas teorias no IPB no início de 1881 até aquela data, mencionando que o protesto do brasileiro tinha merecido comentários favoráveis dos países que o receberam, e fazendo votos de que se fizesse justiça a quem de direito.
Este artigo foi enviado pelo próprio Ribeiro de Sousa a membros do governo e às academias francesas, a Renard e Krebs, e a toda a imprensa parisiense, sem ter recebido nem apoio nem contestação durante esta que foi a sua última estada na França.
Júlio César Ribeiro de Sousa não influenciou praticamente nenhum dos pioneiros da aeronáutica que se seguiram a ele, à execeção de Augusto Severo de Albuquerque Maranhão, que passou a se interessar pelo mais leve que o ar depois de tomar conhecimento das promissoras experiências do paraense com aeromodelos.
O primeiro dirigível do mundo é a aeronave N-6, do mineiro Alberto Santos Dumond campeã do ‘Prêmio Deutsch’, em 1901, que nada aproveitava das idéias de Ribeiro de Sousa. Júlio César Ribeiro de Sousa morreu em Belém a 14 de outubro de 1887. A causa de sua morte foi o beribéri. Faleceu em completa pobreza.



Fonte: Google

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