quarta-feira, 6 de abril de 2011

TIMBAÚBA - XI

Ilustração de Dorian Gray


OS COSTUMES E CRENDICES
 
Os costumes e as crendices na Fazenda Timbaúba, eram uma decorrência das tradições locais e da atividade econômica desenvolvida.  A seguir, alguns registros:
- A semana de trabalho iniciava na segunda-feira e terminava na sexta-feira. O sábado era meio feriado, àqueles que não iam à feira em Caicó ou Jardim do Seridó, ficavam em casa, fazendo serviços domésticos. O domingo era o dia do descanso.
- Não havia feriado, porém respeitavam os seguintes dias santos: Quinta e Sextas-feiras Santas, São João, São Pedro, Santa Luzia, Todos os Santos e Nascimento.
 Quintas e Sextas-Feiras Santas – os dias grandes da Semana Santa. São João – uma festa tradicional em todo o Brasil, trazida portugueses, de certa forma ligada à colheita. São Pedro o respeito pelo porteiro do céu; todos, um dia irão bater àquela porta. Santa Luzia – a protetora dos olhos; o pavor de ficar cego.  Todos os Santos – uma homenagem coletiva a todos os Santos da comunidade celestial. Nascimento – o Dia do Natal; uma homenagem ao nascimento do filho de Deus.
 - O relógio era acertado pela “hora solar”. O sol apontando no nascente eram 6 horas da manhã. O sol a pino era meio dia. O sol se pondo, eram 6 horas da tarde.
- O dia de trabalho era de sol à sol. O almoço era servido às 9 horas da manhã, o jantar às 2 da tarde e a ceia às 6 da noite.  Ao amanhecer do dia, antes dos trabalhadores irem para o trabalho, eram servidas xícaras grande de café quente. 
- Os trabalhadores eram sempre contratados “boiados”, ou seja, com as refeições.
- O trabalho no curral começava mais cedo; ao “quebrar da barra”, os tiradores de leite iniciavam as suas atividades. 
- Pela ausência de iluminação elétrica, após a ceia, a porta do meio era fechada por dentro, ficando os homens isolados da sala da frente pra fora; as mulheres, na cozinha, lavando os pratos, arrumando os “troços” (utensílios de cozinha) e botando o mungunzá no fogo, para poder servir no almoço do dia seguinte. Às 8 horas da noite já era silêncio total e todos da Casa Grande estavam recolhidos.
- O uso da cama só era permitido para os doentes ou parturientes. Todos, sem exceção, dormiam em rede.
- O uso da latrina era, exclusivamente, das mulheres e crianças. Elas se banhavam em bacias, usando o espaço da dependência da latrina.  Os homens se banhavam no açude ou nas cacimbas do rio, usando cuias ou cabaças para recolher a água. As necessidades fisiológicas eram satisfeitas no mato. Para os doentes, colocavam-se um urinol debaixo da rede ou da cama.
- As crianças dormiam com os pais ou as mulheres da casa, até os 5 anos de idade. A partir daí, as meninas ficavam nas camarinhas com as moças solteiras e os meninos iam para o salão. Depois dos 10 anos, eles dormiam lá fora com os homens, na sala da frente ou nos alpendres. 
- As refeições eram servidas na sala de jantar de uma só vez para os homens. Se havia mais homens do que comportava a mesa, serviam-se primeiro os trabalhadores e a seguir o pessoal de casa.  As mulheres e as crianças comiam na cozinha, em cima de esteiras de carnaúba, estendidas no chão.
- Entrar na intimidade da Casa Grande só era permitido aos filhos homens. Os serviçais só tinham acesso à sala do oratório, onde estavam os potes de água de beber, à cozinha, e na cozinha dos queijos, onde também se encontrava o pilão.
- Os namorados só se viam nas festas ou nas feiras.
- Os casamentos só eram aceitos se fossem na igreja. Casamento civil, que chamavam de contrato, só quando o da igreja já havia sido realizado.
- O oratório era de uso exclusivo das mulheres, as quais faziam suas rezas à noite.
- Acreditava-se em almas penadas, visões, assombrações e caiporas.
- Acreditavam na influência da lua e dos planetas na vida humana e criam na leitura das mãos. Influência dos ciganos que freqüentemente transitavam pelo sertão.
- Temiam as velhas árvores (oiticicas)  de beira de caminhos pois, segundo eles,à noite acolhiam  os espíritos. 
- Acreditavam que as almas só apareciam até meia-noite.
- Não abatiam animais na Semana Santa e não comiam carne nos dias grandes.  Também se evitava fazer qualquer tipo de negócio nesses dias.
- Acreditava-se no mau agouro do canto da Coruja “Rasga Mortalha”.
- Acreditava-se em rezas fortes, benzedeiras, para cura de doenças e mau olhado.
         Até na poesia popular essas manifestações apareciam, como na sextilha do improvisador paraibano, conhecido por Xano (Feliciano Gonçalves Simões):
         "Certas coisas nesse mundo/Deixa a gente incomodada:/ Andar em burro chotão,/ dormir em rede furada/ Tirar espinho com faca/ Que tem a ponta quebrada/ Se embrulhar com lençol curto/ Em casa mal assombrada...”
         Mesmo com as limitações impostas pelos costumes tradicionalistas rigorosos,assim como, pelas supertições incorporadas naquele meio, o povo da Fazenda Timbaúba vivia tranquilo e feliz.

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