domingo, 3 de abril de 2011

TIMBAÚBA - X


Ilustração de Dorian Gray

O TRANSPORTE

O transporte, na Fazenda Timbaúba, era um dos mais problemáticos, tanto pela localização da Fazenda, como pela natureza do terreno, acidentado e pedregoso. Não havia rodovia e tudo era feito  por trilhas de gado que se iam alargando e terminavam numa estrada.  Se é que se pudia chamar aquelas vias de estradas. 
O transporte era feito, principalmente, em costas de burro. A Fazenda tinha uma bem treinada tropa (cinco burros mulos)  para transporte de carga pesada, para as feiras Caicó, Jardim do Seridó e Ouro Branco. Esses burros  muito bem tratados pelo tropeiro Zé Libânio,  eram apelidados de:

  Canário – o burro que andava no coice da tropa. Era de uma cor quase amarela e tinha fome de andar. A posição dele na tropa,  era exatamente para pressionar os da frente a aumentar o ritmo da passada. Era um animal  reforçado e dócil.
Melado o segundo, contado de trás pra frente. Tinha a cor de mel e um porte avantajado. Manhoso e lerdo para andar, razão por que era colocado na frente de Canário, que, vez por outra, mordia no seu trazeiro, pressionando para andar.
Rabo Tortoum burro grande  e castanho escuro. Quando novo, teve uma bicheira debaixo do rabo, ficando com um defeito na cauda, daí o apelido. Era cheio de manhas e gostava de morder ou dar coice, porém tinha muita força e resistência.
Cacheado era o que se podia chamar de um burro bonito. Castanho-escuro, com lavras,  pêlo crescido e encaracolado.  Não era dos mais fortes, mas um grande andador.   
Andorinhaa única fêmea e a madrinha da tropa. Tinha uma resistência física fora do normal e quase não suava.  Conhecia todos os caminhos ou trilhas da região. Dizia Zé Libânio, que pelo tipo de carga, ela já sabia o destino.  Tinha um ritmo  alto de andar e as vezes era difícil de ser acompanhada. 
 O tropeiro tinha um carinho todo especial pela presença da burra na tropa, enfeitando-a com metais, guizos, chocalhinhos  e viseira. Quando andava, fazia um ruído  todo próprio que, à distância , já denunciava a sua presença.  Essa tropa era bem disciplinada e atendia  ao tropeiro com as ordens verbais, bem como o estalo do chicote.        
Para o transporte de carga leve e à pequena distância, havia os jumentos, que transportavam lenha, água para casa e ração para as vacas do curral.  Os apelidos eram Roxinho, Moleque, Rodete,  Dois de Ouro e outros.
            O carro de bois usado somente em serviços difíceis, dentro da mata; tirar madeira, lenha ou material de construção. 
 Para o transporte individual usavam-se os “burros de sela” especialmente treinados. Havia os cavalos, porém eram pouco usados. Os vaqueiros preferiam   os “burros de campo”.

 Na década de 20, o velho Zuza adquiriu um carro Ford e possuiu o automóvel  enquanto existiu. Era o seu transporte de ir às feiras da redondeza.
Relativo ao automóvel, consta que a introdução do mesmo na Fazenda, foi através do filho mais velho da família, chamado José Gorgônio, que havia estudado em Recife e no Rio de Janeiro.
A velha Nanu ficou muito tempo aborrecida com o fato, porém terminou se acostumando.   O primeiro automóvel teria sido um “Ford de bigodes”, de segunda mão. 
A partir daí, havia sempre um caro na Fazenda.  Houve época  que existiam dois. O velho Zuza se irritava com o filho José, porém não impedia o seu interesse por carros usados. 
 O negro Murixaba, um serviçal da Fazenda, contava que o velho Zuza certa vez explodiu com filho dizendo: “Quem tiver o  seu carro velho, pode oferecer ao meu filho José, que ele compra.”    

 Comentários  O  “Burro de sela” do velho Zuza chamava-se Redondo que o conduziu por inúmeras de viagens.  Morreu de velho, nos cercados da Fazenda Timbaúba.
  Zé Libânio, já com a idade avançada passou para o seu filho João Libânio, que tinha as mesmas habilidades  do pai,  o trato daquela tropa. 
 Os automóveis eram adquiridos por José Gorgônio, numa praça de Recife onde havia um  vigoroso mercado de carros usados de várias procedência.      


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