quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

TIMABÚBA II

II – O CHÃO

Ilustração de Dorian Gray
Um dos mais importantes caminhos d’água da bacia hidrográfica da região do Seridó é o rio Barra Nova, o qual já se chamou também Quipauá, e a velha Nanú, minha avó, teimava em chamá-lo rio do Espírito Santo, antigo nome do atual município de Ouro Branco, banhado pelo aludido rio.
          A Fazenda Timbaúba está localizada na ribeira desse rio, em pleno coração do Seridó, e suas terras têm características próprias da citada região: chão duro, ondulado, pedregoso e cortado por um fertilíssimo vale. 
Na *chã dos altos (*terreno plano no alto de um morro) tem uma finíssima camada de solo agrícola, o qual, é interrompido nas quebradas pelo afloramento do subsolo constituído de uma rocha fragmentada e escura  que o sertanejo chama de “pedra mole”.

A cobertura vegetal é formada principalmente de Jurema (1), Pereiro(2), Caatingueira(3), Xique-Xique(4), Faveleira(5) e outras xerófilas. 
Nos lugares onde a ocorrência de pedras é maior, o solo torna-se próprio para a cultura do algodão Mocó pela sua riqueza em sais minerais.
   Ali também vegeta espontaneamente o capim Panasco(6), a grande forragem nativa daquele sertão, o qual muito concorreu para a implantação das fazendas de criar do Século XVIII e também para o sabor afamado da carne de sol do Seridó.

É uma forragem de grande valor nutritivo que nos anos bons de inverno chega a atingir meia braça de altura; modifica totalmente a paisagem sertaneja durante o período das chuvas, ou logo após, quando a caatinga então se transforma num lençol verde, semelhante a um trigal, que na entrada do verão vai amarelando e adquirindo a coloração dos cabelos  dos meninos seridoenses.
            Nas terras altas e onduladas, formam-se córregos, adornados por velames e pinhão, que levam suas águas entre pedras roladas e lajeiros, para os riachos e conseqüentemente ao rio, cujo vale tem um riquíssimo aluvião, onde está concentrada a atividade agrícola da Fazenda. 
            A riqueza mineral é conhecida; tem ótima argila, muito usada em cerâmica. Há ocorrência de pedra calcária, minério de ferro, berilo e outros minerais.
            O sertanejo daquela região é demais apegado à terra e se preocupa em aproveitá-la totalmente, vivendo, porém, na dependência  das chuvas.

            Foi nesse ambiente de natureza agressiva, que Gorgônio Paes de Bulhões implantou a Fazenda Timbaúba, na metade do século passado, deixando as suas marcas até os dias de hoje. 

(1) Mimosa acutispula Benth (Mimosa  nigra Hub).
(2) Aspidosperma  pirifolium Martt, da família das Rosáseas.
(3) Caesalpinia  Bracteosa Tul.
(4) Cereus Gounellei k Schum.
(5) Onidoscolos phyllacanthus Pax & Ooff (Jatropoha phillacanta Mart.).
)6)  Aristidia setifolia H.B.K. (Aristidia arenaria  Tim).   

- A maior parte das terras da Fazenda Timbaúba é constituída de um chão piçarrento, salvo os aluviões no vale do rio ou dos riachos maiores.  Por conta dessa realidade, as pessoas, para poder caminhar nos arredores, são obrigadas a estar constantemente com os pés protegidos.

 O próprio velho Zuza confeccionava “apragatas” de couro cru para os netos em férias; momentos divertidos acompanhar o avô medindo os pés de cada um e transformar artesanalmente uma “garra” de couro cru em uma rústica sandália para o nosso uso, enquanto estivéssemos por lá.
Essa veia artesanal herdada do velho Zuza apareceu no neto Zola.
Ele era bem desenvolvido nas artes de transformar o couro em arreios, cabrestos, alpercatas que dispensava contratar um especialista para essas funções.  
O nosso primo Zola só tinha um defeito: não se contava com ele nas noites de escuro. Tinha verdadeiro pavor de alma do outro mundo e contam-se alguns casos dele relacionado ao assunto.
O primo Zola, além de um bom artesão carregava um nome muito difícil de ele justificar: Shakespeare da Nóbrega Zola.
 Quando alguém o perguntava sobre o nome, respondia filosoficamente falando: “Foram uns gajos que viveram, lá pras bandas da Europa, há muito tempo atrás...” e ficava por aí.
Há pessoas que passam pelas nossas vidas e deixam um rastro só de boas lembranças pela sua ingenuidade,simplicidade e alegria,Zola foi uma dessas figuras.

Texto extraído do livro "TIMBAÚBA-Uma fazenda do século XIX " -Nossaeditora Ltda-Natal-RN-novembro de 1984.

Um comentário:

  1. Qdo eu era crianla aforava viajar para timbauda na camioneta do primo Zola. Era muito divertido. Bobo Pereira seu tio tinha muito carinho por ele. Oh tempo bom q nao vokta mais...que saudade!!!

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