quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

TIMBAÚBA - VI


Ilustração de Dorian Gray


VI – OS BOIS DO PIAUÍ
           
 Os Bois do Piauí eram uma mercadoria de grande interesse comercial, desde o Século VIII.  Os boiadeiros do Seridó adquiriam as boiadas dos criadores do centro-sul daquele Estado, nas regiões de Oeiras, Picos, Jerumenha e Floriano, já à beira do Parnaíba.

Tangiam “a pé”, através do sertão do Ceará, até o Seridó, onde eram refeitos nas pastagens de capim Panasco, para serem vendidos nas feiras de gado de Pocinhos ou Campina Grande, na Paraíba.
            Essa atividade exigia homens decididos, afeitos à aventura e de grande resistência física.  Esse tipo de viagem era feito a cavalos e só uma vez por ano.  O tempo de duração poderia chegar a três meses.
Os boiadeiros saíam do Seridó, através de Pombal, no sertão da Paraíba seguindo a rota do gado: Souza, São João do Rio do Peixe, Cariris Novos, Icó, Valência, Tauá, Oeiras, Picos, São João do Piaui, Jerumenha e Floriano.

Na ida, procuravam ganhar tempo, chegando a fazer dez léguas por dia, o que significavam duas semanas de viagem. Após a chegada ao local escolhido, arrendavam um cercado com uma casa, onde ficavam arranchados e iam juntar o gado comprado.
  As boiadas poderiam chegar a mil cabeças. Enquanto isso aguardava o momento próprio de partir.

Segundo Artéfio Bezerra da Cunha, de Serra Negra:
“Era um viagem penosa e arriscada, porém devia compensar. Essa operação era somente uma vez por ano, porque, depois do inverno, os gados não suportariam o percurso da viagem, pela falta de pastagem e mais do que isso, a água que, depois do inverno, escasseava consideravelmente. E para regularizar a operação, os especuladores  dos bois do Piauí, só partiam com a manifestação do inverno, nos nossos sertões. Assim, sempre a partida de lá era em fevereiro...;” mais adiante continua:  “... quando a barra vem mostrando os seus primeiros raios, os condutores alertam os tangerinos e seguem a juntar o gado(...) dividido os lotes até 150 bois(...) que seguem à estrada, até a dormida seguinte.  E com essa organização diária, vencem-se as distâncias.”  
           
 Zuza Grgônio foi um desses boiadeiros, cuja atividade foi herdada do pai, o sertanejo Gorgônio Paes de Bulhões e também do avô, o lendário Cosme Pereira da Costa.
            Era muito comum haver sociedade entre eles, especialmente quando se tratava de parentes. Uma maneira de baixar os custos da viagem. De uma dessas sociedades, foram colhidas as informações que se seguem: a sociedade foi constituída entre Zuza Gorgônio, seu irmão Capitão Janúncio da Fazenda Pedreiras e o genro deste de nome Abdon Odilon da Nóbrega.

Foram trazidas 858 cabeças, com um custo médio de compra de 21$700 réis, 3 burros mulos, comprado em média de 87$000 réis, 5 cavalos, comprado em média de 44$350 réis.
 O adiantamento para viagem foi de 1.130$000 (um conto e cento e trinta mil réis).
Foram gastos com alimentos e impostos (Piauí e Ceará), aluguéis e arrendamentos de currais e cercados, 3.056$878 (três contos cinqüenta e seis mil oitocentos e setenta e oito réis); com prestação de serviços a cavaleiros e tangerinos, 891$460 réis.

Nessa viagem, a sociedade investiu cerca de 24.324$830, ou seja, vinte e quatro contos, trezentos e vinte quatro mil, oitocentos e trinta réis, em moedas do império, incluindo uma rede de dormir.


Empregaram 28 tangerinos, a $300 réis por dia “boiado”, 4 cavaleiros, a 1$000 réis  de diária, todos do Piauí, alem, do pessoal do Seridó, composto de 3 cavaleiros, por parte de Zuza Gorgônio e 6 da parte do Capitão Janúncio.
 A viagem de volta, tangendo a boiada, durou cerca de 43 dias de caminhada. 
Esse mesmo gado, já no caminho de volta, vinha sendo vendido à base de 32$000 a 34$000 por cabeça.


 As anotações desse balanço foram feitas no dia 18 de maio de 1888, quando realizavam o apurado da viagem.

   Zuza Gorgônio, dificilmente perdia uma viagem dessas ao Piauí, que tinha o sabor de aventura e dava bons resultados financeiros. Só deixou de fazê-las quando o peso dos anos não mais permitia a sua presença. Seu filho mais velho, de nome Basílio, começou a substituí-lo.

O boiadeiro Artéfio Bezerra da Cunha, de Serra Negra, cujas viagens ao Piauí deram-se até 1934, escreveu um belo livro sobre essa atividade comercial, com o título MEMÓRIAS DE UM SERTANEJO Editora Pongetti- Rio de Janeiro- 1971, cuja leitura é recomendada para os interessados nesse assunto.    

Um comentário:

  1. Por favor replique a matéria onde o carro roubado do senhor: Gorgonio Paes de Bulhões, filho de Dulce Helena, é encontrado e se encontra na delegacia de Picuí a disposição do mesmo.

    desde já agradeço a ajuda.
    http://setimaregional.blogspot.com/2011/04/apreendido-veiculo-clonado-em-pedra.html
    http://setimaregional.blogspot.com/2011/04/mais-informacoes-sobre-o-fiat-clonado.html

    ResponderExcluir