sábado, 19 de março de 2011

TIMBAÚBA - X

Ilustração de Dorian Gray

O VAPOR

Uma decorrência da implantação da agricultura, no início do século, foi o descaroçador de algodão, conhecido popularmente por “Vapor”(*). 
O nome era por conta da caldeira, que acionava o maquinário que fazia a operação de separar a  pluma da semente: um locomóvel a vapor, que mais parecia uma antiga locomotiva de estradas de ferro invertida.

   Era constituído de uma caldeira horizontal, acionada a lenha, com um mecanismo transformador de força, montado em cima dela, com eixos volantes e polia.  
A força gerada pela pressão da caldeira fazia funcionar todo o sistema, que  transmitia o movimento de rotação, através de uma correia, à máquina de descaroçar.

   Esses equipamentos eram bem simples: um eixo recebia o movimento de rotação  através da polia; montada nele havia várias serras circulares de aço; entre elas descia uma espécie de costelas numa tampa de madeira de forma abaulada. 

 No espaço formado entre a tampa e as serras, o algodão em caroço era jogado lentamente, formando ali um rolo, que girava continuamente, fazenda a separação.  Enquanto as sementes caiam embaixo, a lã era empurrada para trás por ventiladores e, rolos de madeira desciam em forma de pasta prontas para enfardar.
A prensa de madeira, muito rústica, composta de uma caixa desmontável, fuso de madeira e almanjarras, a lã era prensada em fardos de 45 quilos, num trabalho árduo, realizado por dois homens robustos.

O fardo era envolto em estopa de algodão e contido por fios de arame liso. Os fardos prontos eram transportados para  Jardim do Seridó ou Caicó, em costas de burro e comercializados por cargas de lã(1).

 Em relação ao “caroço” do algodão, como não havia mercado para ele, ainda não era industrializado na região,   era  armazenado em estado natural  e consumido pela gado e a miunça da fazenda.
       Essa pequena industria rural funcionava com o próprio pessoal da fazenda, que ficava ocioso após a colheita dos roçados. 
       O “Vapor” ocupava os prédios separados da Casa Grande e esteve ativo até os anos 50, algum tempo, ainda depois da morte do velho Zuza.

  (1)- Carga de lã. Dois fardos pesando cada um 45 quilos no total de 90 quilos ou 6 arroubas.

(*) – No livro “Encontro com a Natureza”, do poeta popular de Caicó/RN,  Antônio Sobrinho, ele escreveu o seguinte verso, inspirado  no “Vapor” que ele conheceu:

“Lá na casa do Vapor
Só ferro velho avistei
E na fornalha eu passei
Olhando aquele setor
Onde era reino do amor
Hoje é reino de tristeza
Não tem lamparina acesa
Por dentro do casarão
Só silêncio e solidão
Por ordem da natureza.”

(1)- Croá ou Caroá – Fibra vegetal colhida no sertão de Pernambuco, usado na fabricação artesanal de cordas.
(2)- “Carga de lã”.  Dois fardo pesando cada um 45 quilos, no total de 90 quilos ou 6 arrobas.

Essa pequena indústria rural era operada pelo mesmo pessoal que trabalhava na agricultura da  fazenda. Tenho  na mente a imagem de todos, mas os nomes já me falham.

  Àqueles cujos nomes ainda restam na minha memória são:
Pacheco – foguista, Chico David trabalhava junto a máquina de descaroçar, os irmãos Tomaz  que trabalhavam na prensa,
Manoel Libânio – tropeiro, Murixaba – o mensageiro.   





Nenhum comentário:

Postar um comentário